O
novo subclado K do vírus influenza A (H3N2),
monitorado por autoridades de saúde internacionais, foi identificado pela
primeira vez no Brasil por pesquisadores da Fiocruz. Trata-se de uma
ramificação genética de um dos principais agentes causadores da influenza,
doença popularmente conhecida como gripe.
Inicialmente,
a amostra, coletada em Belém (PA), em 26 de novembro, foi analisada pelo
Laboratório Central do Estado do Pará (Lacen-PA), no âmbito das ações de
vigilância nacional de vírus respiratórios, coordenado pelo Ministério da
Saúde. A partir do resultado inicial de que se tratava de um vírus influenza
A (H3N2), a amostra foi encaminhada para caracterização genética no
Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências
Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que atua como referência
nacional junto ao Ministério da Saúde e internacional junto à Organização
Mundial da Saúde (OMS) e Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
A
partir da utilização da técnica de sequenciamento genético, conduzida pelo
Laboratório do IOC/Fiocruz, foi possível determinar que se tratava da nova
linhagem. A amostra foi coletada de uma paciente do sexo feminino, adulta e
estrangeira, oriunda das ilhas Fiji. Os resultados foram prontamente informados
às autoridades de saúde locais e ao Ministério da Saúde, seguindo o fluxo
estabelecidos pela rede nacional de vigilância de vírus respiratórios, um dos
pilares do Sistema Único de Saúde (SUS).
Este
caso foi classificado como importado, sem evidências até o momento de
transmissão local associada ao subclado no país. “A vigilância de patógenos que
podem se propagar a partir de viajantes é uma ferramenta estratégica para a
prevenção em saúde. Esse monitoramento contribui para a detecção oportuna de
vírus emergentes e para a adoção de medidas que evitem a disseminação no país”,
explica a diretora técnica do Lacen-PA, Valnete Andrade.
Atenção
na Europa
A
detecção no Brasil do subclado K, também identificado como J.2.4.1,
ocorre em um cenário de maior atenção internacional ao influenza A.
Em dezembro, a OMS alertou para o aumento da circulação do vírus em diferentes
países, especialmente no Hemisfério Norte, onde a chegada do inverno favorece a
disseminação de infecções respiratórias. Na Europa, alguns países registraram
início antecipado da temporada de gripe, com predomínio do H3N2 e
aumento da identificação do subclado K em amostras analisadas.
A
virologista Marilda Siqueira, chefe Laboratório de Vírus Respiratórios,
Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do IOC, explica que no Brasil a
circulação atual do influenza A não está relacionada ao subclado
K. “Estamos observando, em diferentes estados, um pico secundário de
influenza H3 neste final de ano, mas o clado associado a esse
aumento não é o K. O que tem circulado aqui é o clado J.2.3”,
frisa.
Esse
cenário reforça que, até o momento, não há indícios de que o subclado K
esteja impulsionando o aumento de casos no país, embora a vigilância permaneça
intensificada diante da possibilidade de novas introduções e disseminação
interna. “A gravidade da infecção, como em outros casos de gripe, está
relacionada à presença de fatores de risco individuais, como idade avançada,
gestação e comorbidades, e, ainda, à falta de anticorpos contra o vírus
influenza”, comenta a pesquisadora Paola Resende, do mesmo laboratório.
As
especialistas ressaltam que a vacinação contra influenza segue sendo uma
ferramenta fundamental de proteção, especialmente para reduzir hospitalizações
e casos graves da doença. “A composição da vacina de influenza recomendada pela
Organização Mundial de Saúde foi atualizada em setembro para o próximo ano, com
cepas mais próximas dos clados atualmente em circulação, incluindo o subclado
K”, salienta Marilda. “É fundamental se vacinar. O Ministério da Saúde
realiza intensa campanha de vacinação todos os anos. E, mesmo para quem não se
vacinou durante a última campanha, vale ir até o posto de saúde mais próximo e
solicitar a imunização”, complementa Paola.
Além
da vacinação, as pesquisadoras reforçam medidas básicas de prevenção, como
higienização frequente das mãos, evitar contato próximo com outras pessoas
quando houver sintomas respiratórios, além de procurar atendimento médico o
mais breve possível, em especial, em caso de febre, e usar máscara de proteção
para cobrir boca e nariz.
Para
os serviços de saúde, a principal recomendação é o fortalecimento contínuo da
vigilância epidemiológica, laboratorial e genômica. “A rede global de
vigilância de vírus respiratórios, da qual o nosso laboratório faz parte, é
essencial para detectar precocemente a introdução de novos clados e para
subsidiar a atualização periódica das vacinas”, diz Marilda.
A
identificação do subclado K no Brasil representa a capacidade do
sistema de vigilância em detectar precocemente a introdução de novas variantes.
“Do ponto de vista da vigilância, esse achado mostra a sensibilidade e robustez
do nosso sistema de monitoramento. Conseguimos identificar precocemente a
possível introdução do subclado K, que, até o momento, foi
detectado em apenas um indivíduo, caracterizando um caso pontual”, finaliza
Paola.
Fonte _ FioCruz

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