Imuniza SUS

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

The New York Times

 


Em um momento decisivo para a valorização da Enfermagem brasileira, o jornal norte-americano The New York Times publicou, na semana passada, extensa reportagem sobre como a pandemia alavancou a valorização da categoria naquele país. Com histórias da linha de frente, o periódico deu exemplos de como a emergência sanitária pressionou a demanda por trabalhadores e de que formas a escassez de mão de obra resultou em valorização.

A reportagem acompanha a história de Solomon Barraza, enfermeiro de Amarillo, uma cidade do interior do Texas. Com 30 anos em 2020, ele já se via responsável por uma equipe de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) depois de doze meses de experiência no hospital. Sua rápida promoção se deveu à falta de profissionais e ele logo enfrentou mais problemas com sua equipe reduzida. A UTI chegou a ter uma evasão de 80% nos quadros por variados motivos. Alguns se aposentavam, mas a grande maioria encontrava melhores oportunidades de trabalho em centros urbanos como a cidade de Nova York.

País conhecido pelas relações de trabalho precárias, os EUA resolveram em parte o problema de escassez de mão de obra na Saúde com oportunidades para enfermeiros itinerantes, esvaziando de profissionais cidades menores e mais pobres para servir emergências de localidades que pagavam mais. “Com a emergência da pandemia, posições abriram em hospitais de todo o país e a Enfermagem teve mais opções que nunca”, diz a reportagem.

E não apenas a remuneração ficou melhor: profissionais puderam escolher mais livremente turnos de trabalho e dias de serviço, percebendo ao final do mês remunerações superiores mesmo com menos horas trabalhadas. Mas ficou evidente também o desgaste laboral e a evasão de profissionais, além das falhas do Sistema de Saúde dos EUA, que não possui cobertura universal e gratuita como o SUS brasileiro. O número de mortes desde o início da pandemia nos EUA superou 934 mil. No Brasil, oficialmente quase 650 mil pessoas perderam suas vidas até meados de fevereiro de 2022.

“Passados dois anos, profissionais da Enfermagem testemunharam centenas de milhares de mortes. Viram-se em meio a uma doença usada politicamente e enfrentaram incontáveis familiares em luto raivoso. Muitos deles desistiram. Procuram por empregos fora do hospital. Outros simplesmente deixaram seus lares e suas famílias para realizar outro trabalho mais bem remunerado. ‘A Enfermagem finalmente percebeu seu próprio valor’, disse ao jornal Nora Shadix, enfermeira de UTI. ‘Não acredito que volte a trabalhar como era antes. Não acho que vão se conformar.’”

O jornal menciona ainda a escassez de mão de obra para a Enfermagem, que deve se agravar mesmo com 153 mil enfermeiros graduados todos os anos nos EUA. “Serão necessários centenas de milhares de novos profissionais para reconstruir o setor da Saúde norte-americano”, publicou o jornal. E destaca que a remuneração é um bom motivador. “Cria a sensação de que este duro trabalho vale a pena.”

Piso da Enfermagem no Brasil – A pandemia também demonstrou no Brasil a importância da Enfermagem. Em um país diferente pela existência do SUS, que garante saúde pública a toda a população, e com relações de trabalho geralmente balizadas pelas leis trabalhistas, não se pode deixar para o mercado de trabalho regular os salários. Não se trata apenas de uma questão de respeito, que já tarda décadas, mas também uma forma de garantir a boa prestação de serviço.

Tramita na Câmara dos Deputados o PL 2564, que cria o piso nacional da Enfermagem no Brasil. Mobilizações por todo o país estão marcadas em apoio à sua aprovação .

A proposta do piso estabelece salário mensal a partir de R$ 4.750 para enfermeiros e remunerações proporcionais de 70% do valor para os técnicos e 50% para auxiliares e parteiras, corrigidos pelo INPC (Índice de Preços ao Consumidor).

Na avaliação da presidente do Conselho Federal de Enfermagem, Betânia Santos, “o texto atual é fruto de muita conversa e de um acordo que já leva em consideração limitações orçamentárias e diferenças regionais”. A aprovação no Senado no ano passado, por unanimidade, foi resultado dos esforços de construção de pontes com todos os envolvidos e, agora, a luta é na Câmara dos Deputados. A previsão é de que o Grupo de Trabalho que analisa os impactos financeiros do piso conclua seus trabalhos até o fim desta semana. Findo este prazo, a matéria pode ir à votação no plenário em regime de urgência.

Fonte_COFEN

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