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segunda-feira, 23 de junho de 2025

Investiga SUS

 




A pequena Aurora Maria Oliveira Mesquita, de apenas três dias de vida, já enfrenta uma grande batalha após um banho dado por uma enfermeira no Hospital da Mulher e da Criança Irmã Maria Inete, em Cruzeiro do Sul, no domingo (22). É que, após o procedimento, a menina apresentou queimaduras na pele e precisou ser transferida em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) aérea para tratamento em Rio Branco.

O pai da menina, Marcos Silva Oliveira, registrou um boletim de ocorrência contra o hospital por conta dos ferimentos. A recém-nascida nasceu saudável às 8h do último sábado (21), sem nenhuma marca no corpo ou pés. Ela já havia recebido alta, porém os pais decidiram esperar o banho que foi indicado pela pediatra antes de irem embora do hospital.

"Acho que nem um pai nem uma mãe queria passar pelo que estamos passando. A pediatra olhou ela, tirou a roupinha, falou que ela estava bem, que era uma menina forte, aí a mãe dela perguntou: 'então já estamos liberados?' e ela [pediatra] disse que sim, então decidimos esperar o banho", disse ele.

O secretário de Saúde do Acre, Pedro Pascoal, se manifestou nas redes sociais, onde informou que a situação será investigada. O Ministério Público (MP-AC) também irá averiguar a situação.

O pai falou ainda que a enfermeira chegou, arrumou a banheira e quando ia dar banho na primeira criança, ela tirou a água de um chuveirinho, colocou na bacia e, por conta de a criança ter defecado, os pais demoraram a entregar a criança para ela.

"Ela deu o banho, aí o pai da primeira criança pegou e disse: 'meu neném está muito quente, essa água está muito quente' e ela não falou nada. Quando foi a nossa vez, eu estava segurando a banheira porque estava pingando água, triscou [a água] no meu pé e eu disse: 'essa água está um pouco quente', e ela também não falou nada", relembrou.


Criança chorou

O pai narra que assim que ela pegou a pequena Aurora, ela já a colocou na água e a criança chorou muito.

"A neném fez até cocô na hora que triscou os pés na água, de tanta dor. Ela [enfermeira] jogou água, limpou os pés dela e os pés ficaram um pouco dentro, mais do que o resto do corpo. Quando ela levantou já foi saindo couro da perninha dela. Já estava muito vermelho", explicou ele.

Marcos afirmou que após o banho, ele e a mãe da bebê perceberam que aquilo não era normal, porém a enfermeira insistiu que era apenas uma secreção que estava saindo da pele da criança.

"Ela disse que aquilo ia passar e que iria passar uma pomada. Vestiu a roupa na criança e pôs a meia. Aí eu disse: 'não, isso não é normal' . Cobrimos com uma toalhinha e estava sangrando muito, sujando a roupinha branca", expôs.

Nesse momento, ele pediu para ver a pediatra, porém a mulher apenas dizia que a situação de sua bebê "era normal". Segundo ele, Aurora não parava de chorar e a perna dela não parava de sangrar, enquanto tudo isso acontecia.

"Demorou para a pediatra chegar e fizeram curativo. Colocaram pomada para queimadura e disseram que podia ser uma doença, que não podia ser descartada uma doença. Poxa, se fosse uma doença, o corpo dela todinho era para estar desse jeito, mas foi só o pezinho dela", pontuou ele.

Marcos informou que foi à delegacia e registrou boletim de ocorrência para que o ocorrido seja investigado.

"Eu queria só que mais nenhuma criança passasse por isso, e nenhum pai, porque ninguém merece, até o tratamento aqui não foi bom. Quem estava no quarto viu como ela [enfermeira] estava dando banho. A gente tem que ter mais empatia pelo outro", reiterou ele.

Na manhã desta segunda-feira (23), Aurora foi transferida para Rio Branco através de UTI aérea, deve ficar internada na UTI neonatal e ser feita uma biópsia dos ferimentos da criança para verificar se o caso se trata de queimaduras ou alguma outra doença.

De acordo com o secretário de saúde Pedro Pascoal, a situação será investigada. Ele não descarta negligência, porém, também disse que não pode ser excluído que a criança tenha epidermólise bolhosa, uma doença genética e hereditária rara, que provoca a formação de bolhas na pele.

"Nós não estamos aqui para tapar o sol com a peneira e nem passar a mão na cabeça de ninguém se houver culpado, mas é válido que a gente feche um diagnóstico para que tenhamos a conduta correta para tomar em relação ao paciente. Estamos fazendo tudo para que essa criança esteja em um grande centro, realize uma biópsia para verificar se é uma epidermólise bolhosa ou se foi acometida com água quente", complementou.

MP também investiga o caso

O Ministério Público do Acre (MP-AC) informou, nesta segunda (23), que foi instaurada uma notícia de fato para apurar o caso que é acompanhado pela Promotoria de Justiça Cível de Cruzeiro do Sul.

"Considerando a gravidade da situação e a necessidade de esclarecimento dos fatos, o promotor de Justiça André Pinho expediu notificações ao Hospital da Mulher e da Criança do Juruá e à Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), solicitando informações detalhadas sobre o caso", falou o órgão.

O MP requisitou ainda:

  • prontuário médico completo da recém-nascida, incluindo registros de enfermagem e identificação de todos os profissionais envolvidos no atendimento;
  • protocolos operacionais adotados para o banho e higienização de recém-nascidos, com especificação dos controles de temperatura da água e equipamentos utilizados;
  • um relatório circunstanciado com a sequência dos fatos, medidas assistenciais adotadas e providências administrativas tomadas pela direção da unidade.

“A eventual existência de doença congênita ou dermatológica não justifica a ausência de tratamento adequado; pelo contrário, impõe ainda maior zelo da equipe médica e do Poder Público, diante da maior vulnerabilidade da criança e da complexidade potencial do quadro”, complementou a promotora Aretuza de Almeida Cruz, que pediu à Sesacre o detalhamento dos exames diagnósticos em andamento.

Colaborou o vídeorrepórter Mazinho Rogério, da Rede Amazônica Acre

Fonte _ G1 Acre

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