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terça-feira, 10 de maio de 2022

Jovem cientista brasileiro cria marcador que determina a idade biológica com mais precisão

 

A coluna sempre festeja quando se depara com um avanço da ciência brasileira, mas hoje a comemoração é dupla, dada a idade do cientista. Quero apresentar a vocês um jovem de 23 anos do qual, certamente, ainda ouviremos falar muito. Lucas Paulo de Lima Camillo formou-se em bioquímica pela prestigiosa Brown University, nos Estados Unidos, e agora cursa medicina em Cambridge, no Reino Unido. No dia 19 de abril, a revista científica “npj Aging”, especializada na área do envelhecimento, publicou artigo do qual ele é o primeiro autor, ou seja, o principal colaborador. O trabalho é sobre um biomarcador, criado por Camillo, para medir a idade biológica de um ser humano a partir de qualquer tipo de substância do organismo: sangue, saliva ou amostra de tecido.


Vamos por partes para explicar o feito desse jovem cientista. Em primeiro lugar, lembremos que, apesar de termos uma idade cronológica, que é a da data do nascimento, também carregamos uma idade biológica, que reflete o envelhecimento do corpo e seus órgãos vitais. Portanto, uma pessoa de 60 anos pode estar fisicamente bem e ter uma idade biológica inferior. No campo da ciência, há uma corrida para explorar os limites da longevidade – na verdade, como conseguir deter ou até reverter o processo de senescência – que vem mobilizando bilhões de dólares e, inclusive, suscitando debates acalorados sobre a ética de tentar estender indefinidamente nossa existência.

Sou otimista. Da mesma forma que investimentos em saúde e infraestrutura conseguiram aumentar a expectativa de vida das pessoas, o que os pesquisadores estão fazendo abre uma nova perspectiva e não devemos rechaçar a experimentação. O que me leva de volta ao trabalho de Camillo, batizado de AltumAge. “O próximo passo da ciência é desenvolver tratamentos que intervenham na biologia do envelhecimento, em nível celular, porque sabemos que o risco de doenças como câncer, diabetes, demência e problemas cardiovasculares está associado à idade. A criação de biomarcadores, que chamamos de relógios epigenéticos, é um avanço neste sentido, porque não precisamos acompanhar indivíduos da juventude à velhice para avaliar como o organismo vai se deteriorando”, detalha.

Em 2013, Steve Horvath, professor de Berkley, criou um modelo matemático capaz de prever a idade biológica com uma margem de erro de 3 anos e meio, e já há empresas atuando neste segmento que, se eu fosse “batizar” de um jeito descomplicado, chamaria de medidores do relógio biológico. O que torna o AltumAge tão especial é que ele conseguiu baixar a margem de erro para 2.2 anos! Para chegar a esse resultado, é preciso medir o processo de metilação do DNA em nosso organismo – e agora entra a parte mais excitante e um pouquinho difícil de explicar, por isso vamos a uma breve aula de biologia. A metilação é um processo químico que transfere um átomo de carbono e três átomos de hidrogênio e ocorre em todos os tecidos e células. Camillo se vale de imagens simples para descrever o que acontece: “a base bioquímica da metilação é ligar e desligar um gene, isto é, ativá-lo ou silenciá-lo. Quando a parte de um gene está metilada, ele ‘desliga’, e é importante que tenhamos esse ‘liga-e-desliga’ em nossas células. No entanto, com o passar do tempo, pode haver um ruído no padrão saudável da metilação, algo como um CD que vai ficando arranhado, o que provoca a deterioração do som. Por exemplo, alguns genes neuronais que deveriam estar desligados começam a ser reativados, levando a patologias”.

O professor Horvath havia utilizado um modelo linear para essa medição. Em Brown, Camillo desenvolveu sua pesquisa num laboratório de biologia computacional, que usa redes neurais, muito mais complexas. Mergulhou em 142 estudos, depois comparou dados de pacientes com células em laboratórios, e foi assim que começou a desenvolver o algoritmo do AltumAge. Ao medir a idade biológica das células, encontrou uma associação entre o envelhecimento celular e doenças como câncer, esclerose múltipla, diabetes tipo 2 e HIV, entre outras condições. Estamos no limiar de uma era de reprogramação celular e o trabalho de Lucas Paulo de Lima Camillo já se transformou numa valiosa contribuição. Os outros dois autores do artigo são Louis Lapierre e Ritambhara Singh, ambos seus ex-professores em Brown.

Fonte_G1

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