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segunda-feira, 27 de setembro de 2021

A terceira geração de vacinas no COVID/19

 


Como surge uma vacina?

Uma vacina na qual o corpo não entre em contato com o vírus, tampouco com seu vetor viral, mas o próprio organismo sintetize pequenas proteínas do capsídio do Sars-CoV-2 suficientes para ativar o sistema imunológico contra esse patógeno e deflagrar memória com uma eficácia estimada de cerca de 95% – isso tudo sem a chance mais remota de infecção por covid-19 (ainda para imunossuprimidos).

Essa é a base do desenvolvimento de vacinas de mRNA (RNA mensageiro) – ou terceira geração de vacinas, o que temos de mais inovador na imunologia hoje. Suas representantes em circulação são a BNT162b2 (Pfizer – BioNTech) e a mRNA-1273 (Moderna).

De certo tais premissas trouxeram desconfiança em grande parcela populacional. No entanto, apenas o conhecimento nos mune de discernimento razoável, e compreender o que as pesquisas mais atuais e robustas dizem acerca dos benefícios e danos colaterais da técnica em questão é pauta indispensável no contexto em voga de vacinação em massa.

Geração de vacinas: polêmico desenvolvimento e produção

O argumento de que o desenvolvimento desses imunizantes ocorreu em tempo recorde é absolutamente cabível em caso de descrença. Todavia, embora não existam vacinas de mRNA previamente aprovadas até o eclodir da pandemia de coronavírus, vacinas de igual mecanismo foram testadas em humanos para terapias oncológicas por quase uma década (a NCT01684241), e idem para doenças infecciosas por mais de 3 anos.

Foi em meio ao cenário conturbado de grande infecção por covid-19, contudo, que, em 8 meses de pesquisas, a candidata a vacina da Pfizer – BioNTech, seguida da Moderna, foram aprovadas pela Food and Drug Association (FDA) e, posteriormente, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) no Brasil em 23 de fevereiro deste ano de 2021.

O acelerado desenvolvimento das vacinas se justifica devido à própria natureza da produção da vacina de mRNA e à toda bagagem de conhecimento prévio do campo da imunologia unida à genética.

Todo o necessário para a elaboração delas foi o conhecimento da sequência gênica do antígeno, neste caso, a proteína spike (S) do SARS-CoV-2. Após sua síntese in vitro, essas vacinas passaram por todas as etapas de revisão da FDA pelas quais todos os medicamentos passam até sua aprovação para comercialização.

O processo de revisão foi mais rápido do que em situações ordinárias por conta da urgência imposta pela pandemia atual. Nenhuma etapa foi omitida neste processo, no entanto.

Mecanismos de funcionamento e eficácia

A síntese do mRNA em laboratório é realizada mediante a enzima fago RNA polimerase e DNA molde. Todavia, o RNA exógeno é tido como um Padrão Molecular Associado a Patógeno (PAMP) reconhecido pelos Receptores Semelhantes a Toll (TLR3, TLR7 e TLR8) de nossas células da imunidade inata. Uma vez que isso ocorra, é desencadeada uma forte reação imunológica, caracterizada por inflamação importante, com grandes chances de evolução para sepse e morte.

Diante dessa situação, o mRNA utilizado na profilaxia sofre uma modificação de seus nucleosídeos – a uridina é substituída pela pseudouridina – o que é capaz de suprir a atividade imunoestimuladora do mRNA tornando-o seguro.

Além disso, por se tratar de uma molécula instável, o mRNA é envolto em uma cápsula de nanopartículas lipídicas, evitando que se degrade. As duas vacinas circulantes diferem-se em especial nas nanopartículas lipídicas empregadas como adjuvantes, porém a eficácia de ambas é muito similar e beiram os 93,7% em infeções no geral, sendo, ainda, 88,0% eficaz contra a nova variante delta.

Garantidos os dois fatores acima listados, o mRNA purificado e encapsulado em nanopartículas lipídicas (mRNA-LNPs) é capaz de induzir resposta imune, conduzir a troca de classe de imunoglobulina, garantir a maturação de afinidade e memória de células B de longo prazo. Assim, embora a durabilidade da proteção não seja definitivamente conhecida, doses de reforço podem ser administradas no futuro, se necessário, garantindo a imunização.

Efeitos adversos estudados até o momento

As informações a esse respeito ainda são nebulosas, estudos ainda estão em curso e muitos dos publicados até então são inconclusivos.

O que há de informação disponível aponta que, na vacina BNT162b2, os principais eventos adversos potenciais identificados incluíram um risco excessivo de linfadenopatia (78,4 eventos por 100.000 pessoas), infecção por herpes zoster (15,8 eventos), apendicite (5,0 eventos) e miocardite (2,7 eventos). Outro evento adverso relacionado à vacina que recentemente recebeu atenção na literatura médica é a paralisia de Bell.

Para contextualizar esses riscos, foi eleito um comparativo no qual estudou-se os dados de mais de 240.000 pessoas infectadas por SARS-CoV-2 para averiguar seus efeitos na incidência dos mesmos eventos adversos.

Nessa óptica, a infecção por SARS-CoV-2 não apresentou efeito significativo sobre a incidência de linfadenopatia, infecção por herpes zoster ou apendicite, contudo estimou-se um risco considerável de miocardite (11,0 eventos por 100.000 pessoas).

A infecção pelo vírus também parece aumentar expressivamente o risco de diversos eventos adversos para os quais a vacinação não aumentou a incidência, como em arritmia (166,1 eventos por 100.000 pessoas), lesão renal aguda (125,4 eventos ), embolia pulmonar (61,7 eventos), trombose venosa profunda (43,0 eventos), infarto do miocárdio (25,1 eventos), pericardite (10,0 eventos).

Alguns efeitos inesperados foram observados ainda. Aparentemente a vacina BNT162b2 pode proteger contra anemias e hemorragia intracraniana, possíveis complicações da infecção por SARS-CoV-2.

O risco em gestantes é considerado, porém carecendo, ainda, de estudos longitudinais a esse respeito, as pesquisas preliminares são inconclusivas, porém a recomendação é a suspensão da vacinação desse grupo com as vacinas de mRNA.

Afinal, elas têm potencial para interagir ou modificar o genoma humano?

Embora haja uma preocupação justa de que as vacinas de ácidos nucleicos que utilizam o DNA se integrem ao genoma da célula, utilizando o mRNA a probabilidade de que isso ocorra é praticamente nula. O mRNA das vacinas comporta-se como o mRNA de qualquer síntese proteica fisiológica. Sua tradução ocorre, portanto, no citoplasma celular (fora do núcleo – onde o material genético está alojado), logo essa interação entre mRNA das vacinas e genoma humano é especialmente inviável.

Conclusão

As vacinas com a tecnologia de mRNA são promissoras e seguras. Não demandam um grande tempo de desenvolvimento, sendo, portanto, de grande valia em contextos pandêmicos como o atual cenário de infecções por covid-19. Estudos estão em curso para  avaliar os seus eventos adversos em grande escala populacional, no entanto, nenhuma evidência sugere efeitos colaterais importantes que justifiquem a suspensão de sua aplicação – salvo na população gestante.

Fonte_SANAR

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