Os insetos fazem parte do grupo de animais mais populoso do mundo e representam aproximadamente 70% dos indivíduos que habitam o planeta Terra. Embora muitos deles pareçam desnecessários para os seres humanos, esses pequenos bichinhos desempenham vários papéis ecológicos e são importantes para o desenvolvimento e equilíbrio do ecossistema. Mais do que isso, o planeta poderia entrar em colapso em uma hipotética e, praticamente impossível, extinção dos insetos.
Os
insetos são essenciais para a polinização e produção de alimentos, na reciclagem
de substratos, na decomposição de matéria vegetal, na contribuição para o
controle de pragas que atingem vegetações, além de servir de alimento para
outras espécies.
“Se
não tivéssemos os insetos, não teríamos alimentos suficientes por conta da
falta de polinização que alguns deles fazem. Muitos animais também sofreriam ou
seriam extintos porque os insetos servem de alimento para eles. Outro exemplo é
o mosquito, que na fase imatura se desenvolve na água atuando como filtrador”,
conta a curadora da Coleção Entomológica do Instituto Butantan, Flávia
Virginio. “Esses são só alguns exemplos para mostrar que o meio ambiente
ficaria totalmente desiquilibrado sem a presença deles”, acrescenta.
A
importância dos insetos para a vida em geral, a relação estabelecida entre
seres humanos e insetos, bem como a grande diversidade de insetos, faz com que
a possibilidade de sua extinção seja impensável – mesmo que alguns, como o
mosquito Aedes aegypti, sejam vetores de doenças
mortais, entre elas a dengue. O que se pode fazer é controlar as espécies
que causam algum tipo de prejuízo à população, como os transmissores de
enfermidades e pragas agrícolas, por meio de seus “inimigos naturais” que podem
ser outros bichos predadores e microrganismos, ou até mesmo pelo controle
integrado, que envolve os controles manual, químico e biológico.
“É
complexo pensar em extinguir ou tirar uma espécie de circulação de uma cidade
ou país porque os insetos não veem barreiras geográficas. O Aedes aegypti,
por exemplo, foi eliminado do Brasil durante um tempo por conta da ação
organizada com o uso de DDT, um inseticida que contribuiu para o controle do
Aedes à época. No entanto, em pouco tempo, já podíamos ver os mosquitos voando
pelo Brasil porque os insetos continuam entrando no país, seja pelo mar por
meio de navios estrangeiros ou por terra”, comenta Flávia.
Os
mosquitos são vistos com mais frequência no dia a dia porque eles estão por
toda parte, em ambientes externos e internos, já que se adaptam muito bem às
cidades e até mesmo aos diferentes climas. Soma-se a isso a quantidade de ovos
que uma única fêmea pode colocar durante sua vida, que pode variar entre 200 e
500, em média.
“A
evolução dos insetos é muito rápida e eles estão sempre se adaptando. Os
inseticidas acabam ‘forçando’ essa evolução, já que sempre estão selecionando
os indivíduos mais resistentes a eles. Por isso, de tempos em tempos, o produto
químico utilizado precisa ser trocado”, destaca Flávia.
A
dieta pode explicar
Dentro
dos diversos grupos de insetos há características específicas de alimentação, e
isso explica algumas de suas “funções” no planeta – tanto para o bem quanto
para o mal. Eles possuem diferentes sistemas bucais, que incluem mastigação,
sucção, picada e lambida.
Os coprófagos,
como o besouro
rola-bosta, se alimentam de fezes e matérias orgânicas e são responsáveis
por fazerem a reciclagem de ambientes e a decomposição de compostos. Já
os necrófagos comem matéria animal em decomposição, atuando também
como recicladores. As moscas de ordem Diptera e das famílias Sarcophagidae,
Muscidae e Calliphoridae são alguns dos insetos que fazem esse trabalho.
Os frugívoros,
como as moscas das frutas e os percevejos, são aqueles que se alimentam
especificamente de frutas e frutos, enquanto que os fitófagos, como
gafanhotos e grilos, se alimentam de folhas e caules de plantas. Ambos,
frequentemente prejudicam economicamente a produção agrícola.
Há
também os insetívoros, que são predadores ou também parasitoides de outros
insetos e ajudam a manter a quantidade de várias espécies na natureza
equilibrada – inclusive os bichos considerados “pragas”. As joaninhas, vespas e
formigas são alguns dos insetívoros que predam essas pragas agrícolas.
Por
fim, há ainda os hematófagos, que são os insetos que se alimentam de
sangue e têm importância médica-veterinária porque podem atuar como vetores de
patógenos (vírus, bactérias e protozoários), como alguns mosquitos, moscas e
pulgas.
Uso
de agrotóxicos e mudanças climáticas
Para
proteger as plantações de insetos-praga, muitos agricultores utilizam
inseticidas. Mas como estes defensivos agrícolas em geral não são específicos
para determinados insetos, o uso indiscriminado desses produtos acaba
prejudicando toda uma cadeia, inclusive aqueles insetos que são considerados
como bioindicadores, bem como os que auxiliam o ser humano no controle natural
e sustentável dos predadores e parasitoides.
“O
grande problema é que quando um agrotóxico é jogado nas plantações, ele não cai
para matar um determinado inseto. Neste caso, o produto acaba atingindo todos
os grupos que estão ao redor de uma vegetação e mata, inclusive, aqueles
insetos que podem servir como bioindicadores que, por serem mais sensíveis,
indicam que o ar está puro e que a água está limpa”, explica Flávia.
As
mudanças climáticas impulsionadas pelas ações humanas ameaçam a vida de alguns
insetos no planeta. Um estudo
desenvolvido em 2022 pela Universidade de Londres e publicado na revista Nature mostra
uma queda de 49% no número de insetos em regiões afetadas pelo aumento da
temperatura em relação a habitats naturais com pouca alteração climática.
O
Brasil, por ser um país predominantemente tropical e com temperaturas mais
elevadas, abriga uma boa parte da biodiversidade de insetos. “Aqui na região
neotropical há condições ideais para o desenvolvimento de insetos porque é
quente e úmido de forma geral. O Brasil é considerado uma região com uma grande
área de biodiversidade, e por isso boa parte de insetos está aqui, sem contar
as espécies que ainda não conhecemos e que, provavelmente, serão extintas antes
de as descrevermos cientificamente”, completa Flávia.
O
livro Viver no futuro, ainda tem clima para isso? Aquecimento global,
seus impactos e a revolução dos artrópodes, que tem Flávia como uma das
organizadoras, traz informações sobre como as mudanças climáticas afetam a vida
dos artrópodes, que são animais com membros articulados como os insetos, e como
o problema pode influenciar na vida dos seres humanos.
Fonte_BUTANTAN
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