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terça-feira, 18 de novembro de 2025

Como a corrida ajuda na ansiedade, segundo a ciência

 


Quem convive com ansiedade já ouviu conselhos como dormir bem, cuidar da alimentação e se exercitar. Entre essas recomendações, a corrida se destaca: não é apenas um treino para o corpo, mas também um aliado poderoso da mente —e a ciência explica por quê.

Passar pelos primeiros quilômetros de corrida —ou até pelos primeiros minutos, dependendo da sua experiência— não é fácil: o corpo reclama, o coração dispara, a respiração fica curta, as pernas pesam.

Enquanto isso, o organismo trabalha: uma série de reações fisiológicas e psicológicas entram em ação, liberando substâncias que fazem com que a recompensa valha a pena, segundo pesquisadores.

Um dos levantamentos mais amplos já realizados sobre o tema, a revisão "A Scoping Review of the Relationship between Running and Mental Health" (em português, "Uma revisão exploratória da relação entre corrida e saúde mental"), analisou 116 estudos sobre corrida e saúde mental publicados entre 1970 e 2019.

O trabalho concluiu que sessões de corrida —mesmo curtas, entre 10 e 60 minutos— estão associadas à melhora do humor, da ansiedade e dos sintomas depressivos.

Os autores destacam que tanto a corrida recreativa quanto treinos regulares têm potencial de reduzir estresse e aumentar o bem-estar psicológico, embora níveis muito altos de prática (como em maratonistas ou corredores compulsivos) possam gerar efeitos negativos.

Durante a corrida, o corpo e o cérebro entram em ação de formas complexas, liberando substâncias químicas que ajudam a reduzir a ansiedade e promovem sensação de prazer e bem-estar.

De acordo com Marco Túlio de Mello, professor titular do Departamento de Esportes da UFMG, uma das primeiras substâncias liberadas é a beta-endorfina.

"A beta-endorfina atua principalmente na redução da dor, ajudando a diminuir impactos negativos, como microlesões que podem ocorrer durante o exercício. Mas muitas pessoas acreditam que a sensação de prazer vem diretamente dela. Na verdade, ela funciona como um gatilho para a liberação de dopamina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e satisfação", explica.

É a dopamina que realmente gera a recompensa sentida durante e após a corrida —e quanto mais a pessoa gosta de correr, mais intenso e prazeroso é esse efeito.

Outro aspecto importante, destaca Ricardo Mario Arida professor do departamento de Fisiologia da Unifesp, é que durante um esforço contínuo, como a corrida, há liberação de noradrenalina, serotonina e dopamina.

"Esses neurotransmissores regulam o funcionamento do sistema nervoso. Em pessoas com ansiedade ou depressão, eles estão alterados; o exercício ajuda a modulá-los e a melhorar os sintomas."

Na prática, isso significa que o corpo passa a produzir, de forma natural, substâncias que ajudam a estabilizar o humor e reduzir a tensão. A serotonina, por exemplo, está ligada à sensação de bem-estar e equilíbrio emocional; a dopamina reforça a motivação e o prazer; e a noradrenalina melhora a atenção e a disposição. Quando esses níveis se equilibram, o cérebro responde com menos sinais de ansiedade e um humor mais estável.

O professor acrescenta que mesmo uma ou duas sessões de exercício já podem alterar o estado de humor, e a prática regular prolonga esses efeitos, tornando-os mais duradouros.

Além dos neurotransmissores, outros sistemas entram em cena.

O sistema opioide, que libera endorfinas, atua tanto no sistema nervoso central quanto na periferia —reduzindo a sensação de dor, aliviando tensões musculares e promovendo uma sensação geral de conforto e bem-estar.

Já o sistema endocanabinoide, formado por receptores espalhados pelo cérebro e pelo corpo, também é ativado durante a corrida. Ele ajuda a regular o humor, o apetite e o estresse, contribuindo para sensações de relaxamento e calma.

Ambos trabalham em conjunto para gerar o chamado "euforia do corredor", aquela leveza e tranquilidade que muitas pessoas descrevem depois de correr.

É por conta da produção e liberação dessas substâncias que atividades aeróbicas de baixa a moderada intensidade e longa duração —como corrida, ciclismo, caminhada ou natação— são particularmente eficazes para liberar essas substâncias e reduzir níveis de cortisol, o hormônio ligado ao estresse.

Mas a corrida ser uma opção tão recomendada está no fato de que costuma ser bastante acessível, conforme explica a psicóloga do esporte Anna Vitória Renaux, da Confederação Brasileira de Atletismo.

"É um esporte pouco técnico. Diferente da natação, em que é preciso aprender a respirar e coordenar os movimentos, ou do tênis, por exemplo, que exige fundamentos e prática, correr é algo natural e instintivo. A gente começa a andar, acelera um pouco e, de repente, está correndo."

Segundo ela, isso facilita a adesão e faz com que a pessoa perceba resultados de forma rápida. "Basta uma roupa confortável, um tênis e um espaço livre. Não tem ganhador ou perdedor. Se você corre sozinha, sempre sai ganhando. Ontem foram 20 minutos, depois de alguns dias já consegue 30... Essa sensação de evolução e autoeficácia é extremamente positiva para a saúde mental."

Renaux acredita que é justamente essa combinação —simplicidade, autonomia e retorno emocional— que torna a corrida um terreno fértil para o bem-estar físico e psicológico.

Remédio para mente

Correr também é um exercício mental. Passar pelo desconforto dos primeiros minutos, lidar com o cansaço e seguir até o fim exige foco, paciência e resiliência —qualidades que se fortalecem a cada treino.

E é justamente essa dimensão psicológica da corrida que ajuda a aliviar a ansiedade: ao perceber que consegue superar pequenos desafios, o corredor reforça a sensação de controle e autoconfiança, aspectos muitas vezes abalados em quadros ansiosos.

Segundo a psicóloga do esporte Anna Vitória Renaux, estabelecer metas graduais e realistas é essencial para transformar a corrida em uma fonte de prazer— e não de frustração.

"Quando a pessoa define objetivos alcançáveis, ela vive o processo e não apenas o resultado. Correr com amigos, com o parceiro, com o cachorro... tudo isso é sobre a experiência. Essa forma de encarar o exercício ajuda a atravessar as fases mais difíceis do início e fortalece o sentimento de autoeficácia", explica.

Para além dos efeitos químicos no cérebro, há um aspecto simbólico: cada treino concluído reforça disciplina, superação e senso de competência —pilares importantes na regulação emocional e na redução dos sintomas de ansiedade.

De acordo com Renaux, essa percepção de evolução constante —correr um pouco mais, sentir-se melhor, manter um compromisso consigo mesmo— funciona como um antídoto natural contra a sensação de descontrole que acompanha a ansiedade.

O professor Ricardo Mario Arida, da Unifesp, acrescenta que o benefício pode ser ainda maior quando a atividade é feita em grupo. "A socialização com outras pessoas —em grupos de corrida, academias ou treinos coletivos— ajuda a reduzir ainda mais os sintomas de ansiedade e depressão. Quem se exercita em ambientes com interação social tende a apresentar melhoras mais expressivas na saúde mental do que quem treina sozinho", afirma.

Mas, como todo remédio, a corrida também requer dose certa. Renaux alerta que o excesso pode se tornar um problema quando a pessoa passa a negligenciar o sono, o convívio social ou o trabalho.

"Se outras áreas da vida começam a encolher para caber o tanto que a corrida ocupa, é sinal de desequilíbrio. O ideal é que ela seja uma parte da rotina, não o centro dela."

'O melhor exercício é o que você gosta de fazer'

O Colégio Americano de Medicina do Esporte recomenda pelo menos 150 minutos semanais de atividade física em intensidade moderada ou mais alta, distribuídos ao longo da semana.

Por isso, os especialistas reforçam que não adianta treinar por uma ou duas semanas e depois parar por longos períodos. No fim das contas, o movimento que mais faz bem é aquele que você consegue manter — com prazer e disciplina.

Embora a corrida e outros exercícios aeróbicos tenham efeito mais evidente sobre a ansiedade, o professor Alex Arida, da Unifesp, lembra que a musculação também traz benefícios, especialmente quando feita de forma regular e com intensidade moderada, priorizando a resistência em vez da hipertrofia.

"O importante é que a prática de exercício, seja aeróbica ou de resistência, seja constante para que os efeitos positivos sobre ansiedade e bem-estar se consolidem", afirma.

Túlio Arida, da UFMG, reforça que o gosto pela atividade faz toda a diferença: "É diferente colocar para correr alguém que não gosta de correr e alguém que gosta. A dopamina é liberada desde o início da ação da beta-endorfina, então a corrida dá um prazer mais rápido. Já a musculação provoca satisfação de forma mais gradual, mas também contribui para reduzir a ansiedade."

Para quem não gosta de correr ou sente preguiça, a dica é simples: encontrar uma atividade que realmente dê prazer.

"O melhor exercício é aquele que você gosta de fazer", resume o professor da Unifesp.

O texto foi publicado originalmente aqui.

Fonte _ Folha

Radioterapia pode ser desnecessária para muitas pacientes com câncer de mama, diz estudo

 


Um novo estudo com um período de acompanhamento longo descobriu que a radioterapia na parede torácica não fez absolutamente nenhuma diferença na sobrevida de mulheres com câncer de mama em estágio inicial que foram tratadas com mastectomia, cirurgia de linfonodos e medicamentos anticancerígenos avançados.

Os resultados do ensaio clínico randomizado foram publicados no The New England Journal of Medicine.

A radiação tem desempenhado um papel importante no tratamento do câncer de mama há muito tempo, embora os médicos a tenham utilizado com mais parcimônia em estágios iniciais da doença nos últimos anos, à medida que os avanços no diagnóstico e no tratamento melhoraram as taxas de sobrevida.

As mulheres participantes do estudo apresentavam risco intermediário, ou seja, tinham câncer em estágio II com um a três linfonodos afetados, ou tumores com características agressivas e sem comprometimento linfonodal.

A maioria das pacientes não havia feito quimioterapia antes das cirurgias, o que reduz a necessidade de radioterapia, afirmou Ian Kunkler, investigador principal do estudo internacional e um dos autores principais do artigo.

Os resultados corroboram uma tendência já em curso, afirmou ele, "rumo à redução da radioterapia em grupos de pacientes de menor risco". Os riscos para essas mulheres são baixos, e a quimioterapia suficientemente eficaz, para dispensar a necessidade de radiação.

"Agora demonstramos que, com os tratamentos anticancerígenos contemporâneos, o risco de recorrência é muito, muito baixo. Suficientemente baixo para evitar a radioterapia na maioria dos pacientes", disse Kunkler.

O estudo incluiu mais de 1.600 mulheres com doença em estágio inicial, metade das quais havia recebido radioterapia e a outra metade não. Após um acompanhamento mediano de 9,6 anos, as taxas de sobrevida foram semelhantes: 81,4% entre as pacientes que receberam radioterapia e 81,9% entre as que não receberam.

A radiação não teve impacto no tempo de vida das mulheres sem recorrência da doença, nem efeito sobre a disseminação da doença da mama para outras partes do corpo.

Ainda assim, aquelas que receberam radioterapia apresentaram um risco significativamente menor de recorrência do câncer na parede torácica. Mas o número de recorrências foi muito pequeno: dos 29 pacientes que apresentaram uma recorrência, nove (ou 1,1%) haviam recebido radioterapia e 20 (ou 2,5%) não.

Embora a radioterapia já esteja sendo usada com menos frequência em pacientes de baixo risco, as descobertas ajudarão a esclarecer o tratamento para mulheres com risco intermediário.

"Ficou claro que, para cânceres de baixo risco, não era necessária radioterapia após a mastectomia, enquanto que, para pacientes de alto risco, a radioterapia era necessária e deveria ser realizada mesmo após a mastectomia", disse o Dr. Harold Burstein, oncologista clínico do Dana Farber Cancer Institute e professor da Harvard Medical School, que não participou do estudo.

"Isso deixou em aberto a questão do grupo intermediário de pacientes — ainda havia dúvidas se a adição de radioterapia seria benéfica", disse ele. Os resultados do estudo sugerem que a radiação não é necessária para essas mulheres.

"Sabemos que quase todos os pacientes apresentam alguns efeitos colaterais da radioterapia, que podem se desenvolver mesmo anos após o tratamento", disse Nicola Russell, uma das autoras principais do estudo, realizado pelo Conselho de Pesquisa Médica (Medical Research Council), pela Organização Europeia para Pesquisa e Tratamento do Câncer (European Organization for Research and Treatment of Cancer) e pelo Grupo Internacional de Câncer de Mama (Breast International Group).

A curto prazo, a radiação pode causar efeitos semelhantes a queimaduras solares e outras alterações na pele, além de dor e inchaço. Em casos raros, pode levar à inflamação pulmonar e também aumentar o risco de linfedema, uma condição que causa inchaço nos braços e pode ser grave.

A radiação também pode complicar a reconstrução mamária imediatamente após a mastectomia, bem como em reconstruções posteriores, pois altera a textura da pele, tornando-a menos elástica e mais propensa a cicatrizes.

Os pesquisadores alertaram que pacientes com maior risco de recorrência e disseminação do câncer ainda podem se beneficiar da radioterapia.

Fonte _ Folha

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Vacinação evitou mais de 1 milhão de mortes por câncer de colo uterino em países pobres

 


Uma campanha de três anos para vacinar a população de países de baixa renda contra o HPV (papilomavírus humano) evitou mais de um milhão de mortes por câncer de colo do utero, segundo projeção da aliança internacional Gavi de vacinas, divulgado nesta segunda-feira (17).

"Aproximadamente 86 milhões de meninas estão protegidas contra a principal causa do câncer de colo uterino o —HPV—, graças a um esforço conjunto de três anos entre a Gavi e os países de baixa renda", disse a organização em um comunicado.

A enfermidade afeta principalmente os países de baixa renda, onde são escassos os meios de detecção e de acesso a tratamentos. Os países mais pobres foram responsáveis por 90% das 350 mil mortes pelo câncer de colo do utero em 2022, segundo a instituição.

A presidente da organização, Sania Nishtar, elogiou o que chamou de compromisso excepcional de países, parceiros, sociedade civil e comunidades para alcançar a meta de proteger as 86 milhões meninas imunizadas.

"Este esforço colaborativo conduz a um maior progresso global para a eliminação de uma das enfermidades mais letais que afetam as mulheres", acrescentou, destacando que esse tipo de câncer continua matando uma mulher a cada dois minutos no mundo.

OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda desde 2022 um esquema de vacinação com uma dose contra o HPV —antes eram necessárias duas. Essa mudança permitiu ampliar o acesso aos imunizantes com a reserva de doses existente.

A recomendação da OMS é de que os imunizantes sejam aplicados para crianças com idades de 9 a 14 anos, tanto meninos quanto meninas.

Fonte _ Folha

Saúde Mental

 


Três passos para tornar o celular menos viciante, segundo a neurociência

O uso excessivo de smartphones ativa mecanismos de recompensa no cérebro semelhantes aos de comportamentos viciantes, como jogos ou consumo de açúcar, segundo estudos da Neurociência.

O neurologista Baibing Cheng, da Universidade de Michigan (EUA) explica que o vício em celulares não é apenas uma questão de hábito, mas de funcionamento cerebral. Em uma publicação recente, ele compartilhou três estratégias práticas para reduzir o estímulo constante e quebrar o ciclo de dependência digital. A informação é do jornal O Globo.

1. Deixe o celular visualmente “entediante”

O primeiro passo é reduzir o apelo visual da tela. “A cor é um gatilho de dopamina. Tons vibrantes, como vermelho e azul, ativam áreas do cérebro ligadas à atenção e à recompensa”, explica o médico.

A recomendação é ativar o modo preto e branco (grayscale). De acordo com Dr. Bing, essa simples mudança diminui o estímulo que mantém o cérebro preso à tela: “Quando você tira as cores, seu cérebro para de receber aqueles pequenos ‘picos’ de dopamina que o mantêm conectado ao aparelho.”

2. Aumente a dificuldade de acesso

Outra tática é tornar mais difícil o acesso aos aplicativos mais viciantes. “O cérebro adora recompensas fáceis. Se você cria obstáculos, como mover ícones para uma segunda tela, sair das redes sociais ao terminar de usá-las ou usar apps que inserem pequenos atrasos na abertura, esses segundos extras dão tempo para o córtex pré-frontal interromper o impulso automático”, afirma o médico ao jornal O Globo.

Essas microbarreiras ajudam a reverter o comportamento impulsivo e favorecem o uso mais consciente.

3. Substitua o hábito

O terceiro passo é substituir o uso automático do celular por atividades que realmente acalmem o corpo e a mente.

“Muitas vezes pegamos o telefone por tédio ou estresse. Se você troca esse comportamento por algo que regule o sistema nervoso, como respirar fundo, alongar-se ou caminhar, o cérebro começa a associar tranquilidade, e não estimulação, a esses momentos”, explica o neurologista.

“Dr. Bing” ressalta que o objetivo não é abandonar o celular, mas reeducar o cérebro para sentir prazer sem depender de estímulos constantes. “A meta não é nunca usar o telefone, mas ensinar o cérebro a se sentir bem sem precisar de doses contínuas de dopamina.”

Fonte _ ICL

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Cofen discute com lideranças de técnicos e auxiliares de Enfermagem reforma da Lei 5.905/1973

 


O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) realizou, nesta quinta-feira (13), uma reunião com lideranças de técnicos e auxiliares de Enfermagem para discutir a reforma da Lei 5.905/1973, que dispõe sobre a criação dos Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem. O encontro marcou um avanço na construção de uma proposta conjunta que será apresentada à relatora da matéria no Senado Federal, senadora Damares Alves (Republicanos-DF), com foco na inclusão de auxiliares e técnicos de Enfermagem no Plenário do Cofen, demanda histórica da categoria.

Participaram da reunião representantes da Associação Nacional dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem (Anaten), do Sindicato de Saúde de São Paulo (Sinsaúde-SP) , do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social no Estado do Rio de Janeiro (Sindsprev-RJ), da Comissão Nacional de Auxiliares e Técnicos de Enfermagem (Conatenf/Cofen), do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem do Município do Rio de Janeiro (Satem-RJ), Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem do Estado do Pará (Sate-PA), Sindicato Profissional dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem – PE (SATENPE), Sindicato de Enfermagem do Estado de Goiás (SIENFGO), Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem no Distrito Federal (SINDATE-DF), Sindicato dos Profissionais da Enfermagem no Estado do Tocantins (SEET-TO), além de conselheiros auxiliares e técnicos dos Conselhos Regionais de Enfermagem. O deputado distrital Jorge Viana (PSD-DF) também esteve presente, reforçando o apoio político à construção do novo texto.

Ao longo da discussão, as entidades ressaltaram a importância de que a reforma da lei amplie a representatividade da categoria no Sistema Cofen/Conselhos Regionais, assegurando que todas as habilitações da Enfermagem tenham voz e participação compatíveis com sua relevância na força de trabalho em saúde no país. A proposta debatida foi construída de forma técnica e colaborativa, contemplando contribuições das diferentes representações presentes.

O presidente do Cofen, Manoel Neri, destacou que o processo de atualização legislativa deve refletir a realidade atual da Enfermagem brasileira e garantir a inclusão efetiva de todos os segmentos profissionais. “Estamos diante de uma oportunidade histórica de fortalecer a representatividade dentro do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem. A inclusão de auxiliares e técnicos no Plenário do Conselho Federal é uma pauta legítima e necessária, construída com diálogo, maturidade e respeito. Nosso compromisso é avançar em uma proposta que reconheça a importância de cada profissional e reflita as necessidades reais da Enfermagem brasileira”, afirmou.

Fonte _ COFEN

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

O Peso do Silêncio: Conselhos de Enfermagem incentivam a denunciar violência

 


Os profissionais de Enfermagem que sofrem violência no trabalho não precisam carregar sozinhos o peso do silêncio. Normalizar a violência deixa marcas que adoecem, física e mentalmente. 

A violência psicológica é a mais comum, respondendo por 66,5% dos relatos na pesquisa Perfil da Enfermagem no Brasil (Cofen/Fiocruz), mas 17,1% dos casos chegam à agressão física.  “Toda marca conta uma história. E a Enfermagem não pode mais carregar essas sozinha” é tema de campanha do Conselho Federal de Enfermagem.

“O profissional não está sozinho. Encorajamos a denunciar situações de violência. Em caso de agressão física, o profissional de Enfermagem deve se dirigir à delegacia mais próxima para registrar um Boletim de Ocorrência (BO), além de reportar a sua chefia e ao Conselho Regional de Enfermagem (Coren) de seu estado. Para ameaças ou agressões verbais, o BO também pode ser feito online”, explica o presidente do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), Manoel Neri. 

“As pessoas, de modo geral, têm dificuldade de partilhar vivências que trazem um sentimento de vergonha, de fragilidade, mas lidar solitariamente com eventos de violência pode ampliar o sofrimento”, explica o enfermeiro Anderson Funai, representante do Cofen na Comissão Intersetorial de Saúde Mental do Conselho Nacional de Saúde.

“Na Enfermagem, profissão de maioria feminina, há ainda um marcador social de gênero. Muitas vezes as mulheres guardam para si o que sofreram, principalmente nos casos de assédio sexual. A cultura machista acaba fazendo com que a vítima creia que é responsável pelo ato”, relata.

Marcas da Enfermagem

O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) lançou, neste mês de outubro, a campanha Marcas da Enfermagem. Envolvendo diversas ações, incluindo parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a iniciativa destaca a urgência de combater a violência contra enfermeiros, técnicos, auxiliares e obstetrizes.” A campanha busca dar voz a esses profissionais que sofrem violência no trabalho, sensibilizar a sociedade e cobrar medidas concretas do poder público”, afirma Manoel Neri, presidente do Cofen. Entre as ações adotadas pelo Cofen estão a mobilização em apoio ao do PL 6.749/2016, a defesa de ações estruturantes para garantir o adequado dimensionamento profissional e o apoio aos profissionais vítimas de violência.

Fonte _ COFEN

Cofen regulamenta atuação da Enfermagem na vacinação

 


O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) publicou normativa regulamentando as atribuições de enfermeiros, técnicos e auxiliares de Enfermagem no processo de vacinação. A resolução 795/2025 já está em vigor, fortalecendo o respaldo técnico-jurídico dos guardiões históricos da vacinação no Brasil.

Cerca de 189 mil profissionais de Enfermagem garantem a aplicação de mais de 300 milhões de doses anuais, em mais de 39 mil salas de vacinação no Sistema Único de Saúde (SUS). O trabalho vai além das salas de vacina. As equipes participam da busca ativa da população, identificação de oportunidade vacinal, planejamento estratégico, gestão da rede do frio, ações educativas e acompanhamento de reações adversas.

“O enfermeiro é o pilar que garante que o processo de vacinação ocorra de maneira segura, eficiente e organizada, sempre visando o bem-estar da população atendida. Cada vacina administrada é um passo a mais para a construção de um futuro mais saudável e seguro para todos. A resolução traz um instrumento normativo que orienta, empodera, protege e valoriza o trabalho da Enfermagem, garantindo legalidade, ética e qualidade na assistência prestada à população”, afirma Ivone Amazonas, coordenadora do Grupo de Trabalho responsável por elaborar a minuta da resolução.

Enfermeiro pode prescrever vacinas

A resolução reconhece a prescrição de imunobiológicos como competência do enfermeiro, no sistema público ou privado. No SUS, a prescrição pelo enfermeiro deve observar as políticas e protocolos institucionais e não é obrigatória quando os fluxos de atendimento estiverem previamente definidos pelos programas oficiais de vacinação.

Consolidar o papel do enfermeiro como prescritor de vacinas é um dos principais avanços da normativa, na avaliação de Tatiana Mello, chefe do Departamento de Gestão de Ensino e Profissão (DGEP/Cofen). “Os enfermeiros já coordenam as salas de vacinas no SUS. A Enfermagem atua também em cerca de 4 mil clínicas privadas. Um dos problemas que esses profissionais enfrentavam junto à indústria era o tratamento diferenciado, que não reconhecia seu papel como prescritor de vacinas, já consolidado”, explica Tatiana.

A prescrição deverá incluir a identificação do estabelecimento de saúde ao qual o enfermeiro está vinculado; nome completo e identificação do paciente/usuário e descrição do imunobiológico prescrito, contendo nome segundo as Denominações Comuns Brasileiras (DCB), forma farmacêutica e via de administração; dose, número de doses, intervalo entre elas e esquema de administração; orientações complementares, incluindo cuidados pré e pós-administração, condutas em caso de reações adversas e continuidade do esquema vacinal, quando necessário.

Fonte _ COFEN

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Primeira edição da Demografia da Enfermagem revela crescimento de postos de trabalho em todos os níveis de atenção

 


De forma inédita, o Ministério da Saúde lançou, nesta terça-feira (11), a primeira Demografia da Enfermagem do Brasil, estudo que traz uma radiografia do setor que concentra o maior número de postos de trabalho da saúde no Brasil quando somados enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. Com recorte entre 2017 e 2022, a pesquisa registrou aumento de quase 44% dos postos de trabalho em cinco anos no setor. Em 2017, eram cerca de um milhão de vínculos. Já em 2022, o número saltou para cerca de 1,5 milhão. Esse número não equivale ao total de profissionais, uma vez que um mesmo trabalhador do setor pode ocupar mais de um vínculo de trabalho. O evento foi realizado no Bloco F da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

A Demografia e Mercado de Trabalho em Enfermagem no Brasil, financiada com recursos do Ministério e realizada em parceria da UERJ, mostra o panorama do mercado de trabalho e detalha perfil dos profissionais no Brasil, fornecendo ampla base de dados para que gestores e entidades de saúde possam elaborar ações específicas e implementar políticas voltadas ao provimento, gestão e valorização da enfermagem no país.

Ao representar o Ministério da Saúde, o secretário adjunto de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Jérzey Timóteo, disse que a produção da Demografia da Enfermagem demonstra o cuidado e atenção do Governo Federal frente as necessidades dos trabalhadores. “Estamos em busca de um diagnóstico profundo da realidade da Enfermagem no Brasil e todas as suas matizes que fazem parte da realidade dos profissionais, e com isso gerar evidências que orientem nossas decisões, além de pensar políticas públicas baseadas nos dados e na escuta. A pesquisa é estratégica para fortalecer o planejamento das ações, promover condições mais justas de trabalho, contribuindo para a valorização e o reconhecimento destes trabalhadores em todo o país”, afirmou.

O estudo aponta que o total de postos de trabalho aumentou em todos os níveis de atenção primária (atenção básica), secundária (médica complexidade) e atenção terciária (alta complexidade). A terciária apresentou o maior crescimento absoluto, subindo de 635 mil postos de trabalho em 2017 para quase 900 mil em 2022 (crescimento de 41%). As atenções primária e secundária também tiveram evolução significativa, crescendo de 204 mil para 285 mil postos no mesmo período (39,2%) e de 171 mil postos para 238 mil (39%), respectivamente.

As mulheres representam cerca de 85% da força de trabalho da enfermagem no país, enquanto o setor público concentra 61,9% dos vínculos profissionais.

COVID-19

Dados de 2020 em diante mostram aumentos significativos na contratação de enfermeiros e técnicos, sobretudo no setor público. Esse movimento é compatível com a necessidade de ampliação da resposta à pandemia, que exigiu investimentos em equipes para atender à alta demanda por serviços hospitalares, unidades de terapia intensiva e vacinação em massa.

O crescimento de enfermeiros e técnicos em enfermagem, especialmente no SUS, reflete o fortalecimento das políticas de expansão e qualificação da saúde de 2017 a 2022. Na atenção primária, por exemplo, o aumento de 42% no número de enfermeiros e 77% de técnicos no setor público demonstra o esforço para ampliar o alcance da Estratégia de Saúde da Família e o enfrentamento de desafios como a pandemia de covid-19.

Crescimento regional

De 2017 a 2022, o crescimento de postos de trabalho ocorreu em todas as regiões do país, especialmente em regiões com menos profissionais. O Nordeste apresentou crescimento de 46,3%. No Norte, o aumento foi de 43,8%. Já o Centro-Oeste teve o maior aumento de postos de trabalho no período, com 57,3%. O Sul cresceu 44,6% e o Sudeste teve o menor índice, com aumento de 34,9%. Contudo, o Sudeste segue com a maior concentração dos postos de trabalho.

TABELA CRESCIMENTO REGIONAL DOS POSTOS DE TRABALHO POR REGIÃO

Região

2017

2022

Percentual

Norte

75.656

108.798

↑ 43,8%

Nordeste

239.821

350.849

↑ 46,3%

Centro - Oeste

76.139

119.792

↑ 46,3%

Sudeste

497.453

671.353

↑ 34,9%

Sul

154.597

223.574

↑ 34,9%

Vínculos de trabalho

O estudo aponta predominância de vínculos formais de trabalho. Cerca de 67% dos vínculos trabalhistas estão sob regime celetista (CLT). Os demais profissionais (33%) atuam por meio de contratos estatutários e outras formas de vínculo, como temporários e autônomos. Essa diversidade de regimes de contratação reflete a heterogeneidade do mercado de trabalho no setor, abrangendo tanto servidores públicos quanto empregados da iniciativa privada.

Força de trabalho no SUS

A demografia reforça que os profissionais da enfermagem também representam a maior parcela da força de trabalho no Sistema Único de Saúde (SUS). Esses profissionais atuam diretamente no cuidado aos pacientes, sendo essenciais para a promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde. A presença desses trabalhadores é indispensável em todos os níveis de atenção, desde a atenção básica até os serviços de alta complexidade.

Mercado de trabalho e piso nacional

Segundo a Demografia da Enfermagem, a força de trabalho permanece majoritariamente feminina – cerca de 85% do total. Existe o predomínio de jornadas entre 31 e 40 horas semanais e média salarial entre dois e três salários mínimos.

Desde 2023, para diminuir as desigualdades relacionadas a remuneração dos trabalhadores, o Ministério da Saúde operacionaliza a Assistência Financeira Complementar da União (AFC), que é o repasse de recursos federais para estados, municípios e Distrito Federal para auxiliar no pagamento do piso salarial nacional da enfermagem aos profissionais da área. Somente em 2025, serão repassados R$ 10,7 bilhões de recursos federais ao piso.

“É possível afirmar que os resultados apresentados na pesquisa refletem um esforço significativo e necessário para preencher uma lacuna de informações sobre o mercado de trabalho da enfermagem brasileira. É importante ressaltar a necessidade de investigações futuras que envolvam a produção e análise de dados, tanto quantitativos quanto qualitativos. A demografia promete ser referência crucial para o fortalecimento da enfermagem e valorização dos trabalhadores”, observa o coordenador do estudo e docente do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), Mario Roberto Dal Poz.

Modalidade de ensino

O estudo também mostra o crescimento elevado em todo o país do setor privado no ensino da graduação e técnico, em especial ao aumento de vagas na modalidade Ensino a Distância (EaD), chegando em 2022 a corresponder 50,3% das vagas ofertadas. Esse cenário serviu de alerta para o governo federal e entidades de saúde ligadas à área da Enfermagem, apesar do aumento de estudantes no ensino superior ser uma necessidade para melhorar o quantitativo de profissional necessário às realidades de saúde e contingente da população brasileira.

Em maio de 2025, o governo federal publicou um conjunto de normas que atualiza as diretrizes dos cursos de graduação na modalidade a distância. O chamado novo marco regulatório é composto pela Portaria MEC nº 378/2025 e pelo Decreto nº 12.456/2025, com o objetivo de qualificar ainda mais a oferta de cursos superiores. A ação proíbe a oferta de cursos de graduação de Enfermagem na modalidade EaD, exigindo que sejam oferecidos exclusivamente na modalidade presencial. A decisão busca garantir a qualidade da formação profissional e a segurança da assistência à saúde, que demanda prática e contato direto com pacientes.

Acesse a Demografia da enfermagem

Fonte _ Saúde.gov

Demografia da Enfermagem

 

Demografia e Mercado de Trabalho em Enfermagem no Brasil constitui uma iniciativa estratégica e essencial para compreender a dinâmica da força de trabalho em enfermagem no país. Surge em um contexto no qual a saúde pública enfrenta desafios crescentes, especialmente diante da demanda por atendimentos em um sistema universal como o Sistema Único de Saúde (SUS).

Objetivo

  • Traçar um panorama amplo das características, tendências e cenários relacionados à população e à atividade profissional dos enfermeiros e técnicos de enfermagem no Brasil. Isso envolve não apenas mapear o perfil demográfico desses profissionais – como idade, gênero e distribuição geográfica – mas também analisar como essas variáveis influenciam o mercado de trabalho, a formação e as condições laborais. 

Público de interesse

  • Profissionais da saúde; e
  • Pesquisadoras(es).

Parcerias e apoio intitucional

O projeto é financiado pelo Ministério da Saúde (MS) e desenvolvido pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), em parceria com a Escola de Enfermagem da UERJ, a Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e entidades de enfermagem.

Confira o lançamento da Demografia da Enfermagem, via YouTube

Fonte _ Saúde.gov


Ministério da Saúde lança oficialmente o livro Demografia da Enfermagem


O Ministério da Saúde lançou oficialmente o livro Demografia da Enfermagem, um documento histórico que reúne dados inéditos e fundamentais sobre o perfil, a formação e o mercado de trabalho da enfermagem no Brasil.

No Volume I, destacamos a participação dos professores André Almeida de Moura e Hercules de Oliveira Carmo, autores do capítulo “Estrangeiros atuantes na enfermagem Brasil”, que aborda a inserção de profissionais estrangeiros no cenário nacional e suas contribuições para o fortalecimento da força de trabalho em saúde.

Uma leitura essencial para compreender a realidade e os desafios da enfermagem brasileira contemporânea.

Fonte _ EE/USP

Gestantes em áreas vulneráveis têm até 68% mais risco de perder o bebê

 


Um estudo conduzido por pesquisadores da Fiocruz, da London School of Hygiene and Tropical Medicine, da Universidade de São Paulo (USP) e da Western University (Canadá) revelou que quanto maior a privação socioeconômica de um município, maior é o risco de natimortalidade, que é o falecimento do bebê antes do nascimento a partir da 20ª semana de gestação. Os achados apontam que gestantes que vivem em áreas mais vulneráveis têm até 68% mais chances de perder o bebê antes ou durante o parto, em comparação com as que vivem em regiões mais favorecidas.

Com participação do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), a pesquisa analisou nascimentos no Brasil entre 2000 e 2018, com base nos registros oficiais do Ministério da Saúde (MS) através do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

“Sabemos que há uma relação direta entre condições socioeconômicas, acesso inadequado aos serviços de saúde materna e baixa qualidade do cuidado durante a gestação e o parto”, explica pesquisadora do Cidacs/Fiocruz Bahia, Enny Paixão, que também é professora associada da London School of Hygiene and Tropical Medicine e uma das autoras do estudo. “Ainda não era claro exatamente quanto as condições socioeconômicas de cada município influenciavam essas taxas, agora, as evidências mostram claramente que essa diferença existe e tem impacto real nas taxas de natimortalidade”.

A pesquisadora também pontua que “investigar a natimortalidade entre municípios segundo o nível de privação é fundamental para identificar áreas que demandam melhorias no acesso e na qualidade da atenção perinatal”.

Mapa da desigualdade perinatal

Os pesquisadores utilizaram o Índice Brasileiro de Privação (IBP/Cidacs), que considera renda, escolaridade e condições de moradia, para classificar os municípios em níveis de privação material, também conhecida como níveis de posição socioeconômica. O padrão encontrado apontou que quanto maior a privação, maior o risco de o bebê não nascer com vida.

Em 2018, foram 28,6 mil natimortos no país, o equivalente a 9,6 por mil nascimentos. Embora o número esteja dentro da meta global de até 12 por mil, o dado esconde desigualdades. Nos municípios com melhores condições socioeconômicas, a taxa foi de 7,5 por mil. Já nos mais privados socioeconomicamente, chegou a 11,8 por mil.

Essa disparidade se torna ainda mais evidente quando se foca em regiões com níveis diferentes de realidade socioeconômica. A Região Nordeste, em 2012, apresentou a maior taxa de 12,1 natimortos por mil nascimentos, enquanto o Sul apresentou a menor prevalência, com 7,7 por mil nascimentos.

A pesquisa também revelou que as desigualdades pouco mudaram nos últimos 18 anos. Entre 2000 e 2018, a taxa nacional de natimortalidade caiu cerca de 1,1% ao ano. Além disso, cerca de 90% (25.847) das mortes fetais ocorreram antes do parto, o que, segundo os autores, pode indicar falhas no acompanhamento pré-natal e no monitoramento da saúde da gestante.

As mortes durante o parto, embora menos frequentes, representando 4,3% (1.229) dos natimortos, também se concentraram nas áreas de maiores privações, onde faltam infraestrutura hospitalar e profissionais qualificados.

“Já era esperado pelos pesquisadores que encontrássemos taxas mais altas de óbitos fetais nos municípios com maior privação. No entanto, vale destacar que, ao longo dos anos, foram observadas melhorias gerais, com redução das taxas de natimortalidade em quase todos os níveis de privação - exceto nos municípios mais vulneráveis, onde as taxas não apresentam evidências de queda”, enfatiza Paixão.

Desafio começa antes da primeira respiração

Apesar dos avanços na redução da mortalidade infantil e neonatal no Brasil, a natimortalidade segue como um problema muitas vezes silencioso. Por não envolver o registro de um nascimento com vida, o tema ainda recebe pouca atenção, mesmo representando uma perda humana e emocional devastadora para as famílias.

“Esses resultados destacam as fortes desigualdades nas chances de natimortalidade em todo o Brasil. São necessárias ações direcionadas para reduzir essas disparidades”, Paixão destaca.

Algumas das ações recomendadas são ampliar o acesso ao pré-natal, garantir infraestrutura adequada nas maternidades e reduzir desigualdades regionais na saúde perinatal. A pesquisadora completa que essas medidas devam ocorrer “especialmente nos municípios mais privados, a fim de diminuir as taxas de natimortalidade e melhorar a equidade em saúde perinatal”.

Fonte _ FioCruz