A biossegurança desempenha
um papel fundamental na indústria farmacêutica, especialmente em fábricas
de imunobiológicos e laboratórios especializados na
produção de vacinas, kits para diagnostico e biofármacos. Os Níveis
de Biossegurança (NB) para o trabalho em contenção são determinados com
base na avaliação de risco dos agentes, materiais e produtos
biológicos a serem manipulados e armazenados. Esses níveis estabelecem as condições
necessárias para garantir a segurança durante o manuseio e o
armazenamento desses elementos.
Os
Níveis de Biossegurança variam de 1 a 4 e se aplicam a diferentes contextos,
como áreas laboratoriais, unidades de produção em pequena ou grande escala e
biotérios. A denominação adequada para cada contexto é a seguinte:
- Nível de
Biossegurança (NB): utilizado para áreas laboratoriais e unidades
de produção em pequena escala.
- Nível de
Biossegurança Animal (NBA): aplicado a biotérios, laboratórios
de experimentação animal.
- Nível de
Biossegurança em Grande Escala (NBGE): designado
para áreas laboratoriais e unidades de produção em grande escala.
Essas
classificações garantem a padronização terminológica e a correta aplicação das
medidas de biossegurança em cada ambiente.
Níveis
de Biossegurança
Em Bio-Manguinhos/Fiocruz,
a Divisão de Apoio ao Processo-Virais (DIAPR-VIR) que realiza atividades com
agentes biológicos da Classe de Risco 1, possui Nível de Biossegurança 1. O NB1
é voltado para microrganismos de baixo risco, como Lactobacillus
sp. e Bacillus subtilis não patogênica. Possui baixo
risco individual e para a comunidade. É preciso ter treinamento em
biossegurança e uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) como
jaleco, luvas, óculos e máscaras, a depender da Avaliação de Risco.
Um
exemplo de laboratório NB2 em Bio-Manguinhos é o Laboratório de Controle
Microbiológico (LACOM), que realiza atividades com agentes biológicos da Classe
de Risco 2, dentre outros agentes biológicos, e possui Nível de
Biossegurança 2. Há um moderado risco individual e limitado risco para a
comunidade. Neste caso, já exige precauções adicionais, pois envolve
microrganismos como Schistosoma mansoni e vírus
da rubéola. Aqui, é necessário uso de cabine de segurança biológica e
demais equipamentos de contenção, além da descontaminação de todos os
resíduos e controle de acesso ao laboratório.
Em
Bio-Manguinhos, o Laboratório de Ensaios Pré-Clínicos (LAEPC) realiza
atividades com agentes biológicos da Classe de Risco 3, possui Nível de
Biossegurança Animal 3, representando alto risco individual e moderado risco
para a comunidade. Neste caso, o ambiente é totalmente isolado e é preciso uso
de trajes pressurizados. Nesses tipos de laboratório, são manipulados, por
exemplo, Bacillus anthracis,
vírus SARS-CoV-2 e Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).
O
Nivel de Biossegurança 4 (NB4), nível mais elevado, oferece alto risco
individual e para a comunidade, e manipula microrganismos como por exemplo
o ebola e o vírus de Marburg, exigindo instalações
especializadas e rigorosas medidas de contenção. O ambiente também é isolado e
é preciso uso de trajes pressurizados. Poucos laboratórios no mundo possuem
essa estrutura, e, no Brasil, ainda não há instalações desse nível destinadas
ao uso humano. Atualmente, um laboratório com essa capacidade está em
construção em São Paulo, no âmbito do Projeto Orion. O país conta com um
laboratório com Nível de Biossegurança Animal 4 (NBA 4): o Laboratório de
Defesa Agropecuária do MAPA (LFDA-MG), onde é realizado o manejo do vírus
da febre aftosa.
Treinamentos
Para
garantir a segurança no manuseio desses agentes biológicos, a capacitação dos
profissionais é essencial. Treinamentos específicos são oferecidos para que
colaboradores de fábricas de imunobiológicos e laboratórios
farmacêuticos possam atuar conforme Lei e normativas de
biossegurança estabelecidas por órgãos reguladores, como CTNBio, Anvisa,
OMS e FDA.
Bio-Manguinhos
oferece diversas capacitações em biossegurança e bioproteção para
seus colaboradores, abrangendo desde o período anterior à sua admissão no
laboratório até o desempenho de suas atividades. Entre essas iniciativas,
destaca-se o Curso de Biossegurança, obrigatório para todos os profissionais
que atuam em ambientes de contenção biológica.
Esse
curso conta com uma carga horária de 40 horas, proporcionando uma imersão nos
principais temas relacionados à biossegurança e bioproteção, aplicáveis às
rotinas laboratoriais, às atividades de produção e aos biotérios da unidade.
Além disso, a Assessoria de Biossegurança (ASBIO) dispõe de mais de 30
documentos específicos sobre biossegurança e bioproteção, os quais são
disponibilizados aos colaboradores para estudo autônomo e treinamentos
presenciais.
Equipamentos
de Proteção
Outro
ponto essencial é a capacitação para o uso de Equipamentos de Proteção
Coletiva (cabines de segurança biológica, entre outros)
e Equipamentos de Proteção Individual, equipamento indispensável
na manipulação de agentes infecciosos. Além disso, treinamentos sobre
procedimentos de emergência e resposta a acidentes são cruciais para preparar
os profissionais. No contexto da indústria farmacêutica, as normas de
biossegurança são aplicadas em conjunto com as boas práticas de fabricação,
garantindo que a produção de imunobiológicos ocorra com
máxima segurança e controle de qualidade.
A
adoção de rígidos protocolos de biossegurança e bioproteção na indústria
farmacêutica não apenas protege os trabalhadores, mas também assegura a
qualidade dos produtos destinados à população. A contaminação cruzada, um
dos maiores desafios na fabricação de biofármacos, pode ser evitada por
meio de práticas adequadas e treinamento contínuo dos profissionais envolvidos.
Além disso, a conformidade com as normas regulatórias evita prejuízos
econômicos e fortalece a credibilidade das instituições no cenário global.
Com
o avanço da biotecnologia e o desenvolvimento de novos
imunobiológicos, investir em biossegurança e bioproteção se torna essencial,
neste contexto, manter-se atualizado sobre as práticas seguras e procedimentos
laboratoriais, por meio de treinamentos regulares são medidas indispensáveis
para garantir um ambiente de trabalho seguro e eficiente, contribuindo para
a saúde pública, meio ambiente e o avanço científico.
Fonte _ FioCruz
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