Sundar
Pichai, CEO do Google; 'É uma reinvenção completa da busca', disse ele ao
apresentar o AI Mode - Damian Lemanski
A internet foi
construída com base em um acordo simples: sites permitem que mecanismos de
busca como o Google absorvam
seu conteúdo gratuitamente, e, em troca, o Google direciona visitantes para
esses sites, onde eles compram produtos e veem anúncios. É assim que a maioria
dos sites ganha dinheiro.
Estima-se
que 68% das atividades online comecem em mecanismos de busca —e cerca de 90%
das buscas acontecem no Google. Se a internet é um jardim, o Google é o Sol que
faz as flores crescerem.
Esse
arranjo vigorou por décadas, mas uma mudança aparentemente pequena tem levado
muitos a acreditar que o sistema está ruindo.
Em
breve, uma
nova ferramenta de inteligência artificial será integrada à busca do Google.
Você pode achá-la muito útil. Mas, se as previsões dos críticos se confirmarem,
as consequências para a internet serão sísmicas.
Eles
traçam um cenário em que informações de qualidade se tornam mais escassas
online, e grandes contingentes de profissionais perdem seus empregos.
Os
otimistas, por sua vez, acreditam que isso pode melhorar o modelo de negócios
da web e ampliar as oportunidades para encontrar conteúdo de qualidade. Mas,
para o bem ou para o mal, sua experiência digital talvez nunca mais seja a
mesma.
Em
20 de maio de 2025, o CEO do Google, Sundar Pichai, subiu ao palco na
conferência anual de desenvolvedores da empresa.
Já
se passou um ano desde o lançamento dos "AI Overviews", os resumos
gerados por IA que provavelmente você já viu no topo dos resultados de busca.
Agora,
disse Pichai, o Google quer ir além.
"Para
quem busca uma experiência de busca totalmente conduzida por IA, estamos
lançando o novo Modo IA", afirmou. "É uma reinvenção completa da
busca."
Você
pode estar cético após tantos anos de promessas exageradas sobre IA, mas, desta
vez, é para valer. As pessoas usam o Google 5 trilhões de vezes por ano —ele
molda a internet. E o Modo IA representa uma ruptura radical. Diferentemente
dos AI Overviews, ele substitui completamente os resultados tradicionais da
busca.
Em
vez disso, um chatbot gera uma espécie de miniartigo para responder à sua
pergunta. Enquanto você lê este texto, o Modo IA está sendo implementado nos
EUA, aparecendo como um botão na busca e no app do Google.
Por
enquanto, ele é opcional, mas a chefe de busca da empresa, Liz Reid, foi clara
ao lançar a ferramenta: "Este é o futuro do buscador da Google."
Eis
o problema previsto pelos críticos: os AI Overviews já diminuem drasticamente o
tráfego enviado para o restante da internet, e muitos temem que o Modo IA
amplifique essa tendência.
Se
isso acontecer, pode destruir o modelo econômico que sustentou o conteúdo
digital ao longo dos últimos 30 anos.
"Se
o Google tornar o Modo IA o padrão, do jeito que ele funciona atualmente, o
impacto na internet será devastador", afirma Lily Ray, vice-presidente de
estratégia e pesquisa em SEO na agência de marketing Amsive.
"Isso
vai cortar a principal fonte de receita da maioria dos editores e desestimular
criadores de conteúdo que dependem do tráfego orgânico, o que representa
milhões de sites —talvez mais. O Google tem todo o poder."
O
Google diz que essas preocupações são exageradas. Na verdade, a empresa
acredita que o Modo IA tornará a internet mais saudável e útil.
"Todos
os dias, enviamos bilhões de cliques para sites, e conectar as pessoas à web
continua sendo uma prioridade", disse um porta-voz da Google.
"Experiências
como os AI Overviews e o Modo IA aprimoram a busca e ampliam os tipos de
perguntas que as pessoas podem fazer, criando novas oportunidades para que
conteúdos sejam descobertos."
Mas
Google e críticos concordam em uma coisa: a internet está prestes a mudar
radicalmente. O próximo ano deve marcar o fim de uma era online.
A
única dúvida é como será o mundo quando a poeira baixar.
O
lamento dos editores
É
importante esclarecer: a internet não vai desaparecer. As redes sociais seguem
fortes. Alguns sites com paywall estão prosperando.
O
que está prestes a mudar é a forma como as pessoas encontram e descobrem
informações.
É a
chamada "web aberta" que muitos temem estar sob risco —o ecossistema
de sites independentes, acessíveis gratuitamente, onde pessoas e empresas,
muitas vezes chamadas de "editores", compartilham informações,
imagens e vídeos.
Já
ouvimos isso antes. A revista Wired estampou na capa "A web está
morta" em 2010 —e, no entanto, aqui estamos. Smartphones, aplicativos e
redes sociais já provocaram previsões apocalípticas sobre a World Wide Web.
Mas
após o anúncio do Google em maio, a BBC ouviu mais de uma dúzia de
especialistas que afirmam que o Modo IA representa uma ameaça inédita à
economia digital.
"Acho
que 'extinção' é um termo forte demais para o que vai acontecer com os
sites", diz Barry Adams, fundador da consultoria de SEO Polemic Digital.
"O termo certo é 'dizimação'."
O
Google discorda. Segundo a empresa, os AI Overviews têm sido positivos para a
internet —e o mesmo se aplica ao Modo IA.
O
Google afirma que essas ferramentas encaminham usuários a "uma maior
diversidade de sites" e que o tráfego é de "qualidade superior",
já que os usuários gastam mais tempo nos links que clicam.
No
entanto, a empresa não apresentou dados que sustentem essas alegações.
Existe
um guia de IA para editores curiosos, mas os sites ainda não têm um panorama
claro sobre os impactos dos AI Overviews.
O
Google não respondeu às perguntas sobre esse ponto. E tampouco nega, ao menos
diretamente, que as ferramentas de IA estejam reduzindo o volume total de
tráfego que o buscador envia para a web.
Críticos
dizem que a lógica é simples: os AI Overviews e o Modo IA até incluem links,
mas se a IA já entrega a resposta que o usuário procura, por que ele clicaria?
Os
dados parecem corroborar essa lógica. Não acredite apenas em mim —pergunte à IA
do Google.
Diversas
análises indicam que os AI Overviews reduzem o "click-through rate" —a taxa de
cliques enviados aos sites— entre 30% e 70%, dependendo do tipo de busca.
Outros
levantamentos mostram que cerca de 60% das buscas no Google hoje são "zero
clique", ou seja, o usuário não visita nenhum link.
Especialistas
acreditam que uma versão do Modo IA logo se tornará o padrão, o que ampliaria
ainda mais o impacto sobre o tráfego —já que a ferramenta elimina por completo
a tradicional lista de links.
"Estimo
que os cliques vindos do Modo IA para a web serão cerca da metade —e isso no
melhor cenário", diz Adams.
"Acho
que muitos usuários vão se contentar com a resposta da IA. Isso pode ser a
diferença entre ter um negócio editorial viável e ir à falência. Para muitos
editores, será algo dramático."
Não
se trata apenas de alguns blogueiros perdendo seus empregos. Isso também muda a
forma como os próprios usuários interagem com a internet e encontram
informações.
"A
web reúne todas essas comunidades na ponta dos seus dedos —e isso pode
desaparecer", diz Gisele Navarro, editora-chefe do HouseFresh, site que
publica resenhas de produtos para qualidade do ar.
Navarro
defende os sites que se sentem marginalizados pelo Google e argumenta que a
diversidade de fontes de informação pode diminuir.
"É
como perguntar a um bibliotecário sobre um livro e ele apenas contar do que se
trata, em vez de te entregar o livro", diz. "Aquela sensação de que a
internet é uma grande biblioteca para todos nós, acho que isso acabou."
Um
porta-voz da Google afirma que previsões e análises como essas são
inconsistentes.
Segundo
a empresa, os sites podem perder tráfego por vários motivos, e os estudos que
abordam esse tema muitas vezes usam dados enviesados e metodologia falha.
"Do
nosso ponto de vista, a web está prosperando", disse Nick Fox,
vice-presidente sênior de conhecimento e informação da Google, em um podcast
recente. "Provavelmente não há empresa que se importe mais com a saúde e o
futuro da internet do que a Google."
Segundo
Fox, a quantidade de conteúdo na web cresceu 45% nos últimos dois anos
—excluindo spam.
"Vemos
isso nos dados", afirmou. "As pessoas ainda estão clicando
ativamente."
Apesar
das garantias, alguns sites estão enfrentando dificuldades com a chegada dos
chatbots e das buscas por IA.
No
ano passado, o HouseFresh foi um dos muitos pequenos negócios digitais que
alegaram ter sido prejudicados por atualizações nos algoritmos do Google, que
passaram a priorizar marcas conhecidas.
Agora,
segundo Navarro, a IA está agravando o problema.
"Percebemos
um pico nas últimas semanas", diz. As impressões —número de vezes que o
HouseFresh aparece nas buscas— estão subindo.
"Mas,
ao mesmo tempo, os cliques estão caindo. O Google mostra nossos links com mais
frequência, mas ninguém clica. Isso coincide com os AI Overviews."
Segundo
a consultoria BrightEdge, os AI Overviews elevaram as impressões em 49% na web,
mas os cliques caíram 30%, porque os usuários obtêm suas respostas diretamente
da IA.
"O
Google escreveu as regras, criou o jogo e premiou os jogadores", diz
Navarro.
"Agora
está dizendo: 'Essa é a minha infraestrutura, a web só vive nela'. Acho que
isso vai destruir a web aberta como conhecemos. Na verdade, provavelmente já
destruiu."
Bem-vindo
à web das máquinas
O
maior impacto do Modo IA será na sua experiência diária online. Muitos
acreditam que estamos diante de um novo paradigma: o surgimento da "web
das máquinas".
Um
futuro em que os sites são construídos para serem lidos por IAs, e resumos
produzidos por chatbots se tornam a principal forma de consumir informação.
Demis
Hassabis, chefe do Google DeepMind, o laboratório de pesquisa em IA da empresa,
afirmou em uma entrevista recente que acredita que os editores vão querer
alimentar diretamente os modelos de IA com seus conteúdos —e que alguns talvez
nem se preocupem mais em publicá-los em sites acessíveis a humanos. "Acho
que as coisas serão bem diferentes daqui a alguns anos", disse.
Seria
um mundo em que as respostas estariam sempre à mão. Mas isso também poderia
significar o fim de elementos que tornaram a web aberta tão popular: a chance
de cair em buracos de coelho digitais, de se deparar com algo inesperado ou
encantador, de descobrir o novo.
Em
entrevista ao podcast Decoder, Pichai afirmou que, no fim das contas, tudo
dependerá do que os usuários preferirem.
Matthew
Prince, CEO da Cloudflare —empresa que oferece serviços de rede para quase um
quinto da internet— vê um problema ainda maior: "Robôs não clicam em
anúncios", diz.
Se a
IA vira o público, como os criadores serão remunerados? Uma possibilidade é a
compensação direta.
O
New York Times está licenciando seu conteúdo para a Amazon treinar IA. O Google
paga US$ 60 milhões por ano ao Reddit para usar dados dos usuários em seus
modelos. Diversos grandes conglomerados de mídia também assinaram acordos
semelhantes com a OpenAI e outras empresas.
Mas,
até agora, só gigantes com muito conteúdo têm conseguido esses contratos.
"Não
acho que pagar por conteúdo dessa forma seja um modelo viável em escala
suficiente para sustentar a internet", diz Tom Critchlow, vice-presidente
executivo da empresa de tecnologia publicitária
Raptive.
"É
difícil ver isso como substituto da queda nos cliques."
Se
for mais difícil ganhar dinheiro na web, Adams e outros preveem um êxodo em
massa para as redes sociais. Para muitos, como Navarro, isso já está
acontecendo.
O
HouseFresh migrou para o YouTube. Mas Navarro diz que os algoritmos das redes
são ainda mais instáveis, e as plataformas forçam os criadores a sacrificar
profundidade e detalhamento em nome do espetáculo.
"Não
há incentivo para construir o mesmo conteúdo de alta qualidade", afirma.
"Tudo
vira monetização e transição. Você é forçado a informar menos e vender
mais."
Para
Navarro, a perda de autonomia que os editores tinham na web resulta em conteúdo
de qualidade inferior para o público.
É
claro que há outros mecanismos de busca —como o Bing, da Microsoft, que também
está integrando IA.
Mas
os concorrentes menores têm participação de mercado tão reduzida que
dificilmente conseguirão abalar a economia digital —e muitos também estão
adicionando ferramentas próprias de IA.
A
"web das máquinas", se é mesmo para onde estamos indo, pode ser mais
fechada, menos diversa e, em certo sentido, mais plana para quem navega online.
Mas
nem todos estão em pânico. "Não estou preocupada no sentido de que isso é
uma evolução", diz a professora Dame Wendy Hall, cientista da computação
da Universidade de Southampton (Inglaterra) e uma das pioneiras que ajudaram a
desenhar a arquitetura precursora da World Wide Web, nos anos 1980.
"A
IA agora entra na equação e vai mudar toda a dinâmica. Não quero prever
exatamente o que vai acontecer", afirma.
"A
web ainda existe e ainda é aberta. Se o Google seguir por esse caminho, alguém
vai ter uma ideia brilhante para criar um novo modelo de monetização. Algo vai
acontecer. Mas, para muita gente ao longo do caminho, será tarde demais."
O
que os usuários querem
Não
há dúvida de que o Modo IA é uma peça tecnológica impressionante. Ele utiliza
um "método de ramificação", no qual a IA divide sua pergunta em
subtemas e realiza múltiplas buscas simultâneas.
Segundo
a Google, isso permite recomendar fontes mais diversas, produzir respostas mais
profundas para perguntas complexas e possibilitar perguntas de acompanhamento.
De
acordo com a empresa, as reações aos AI Overviews indicam que o Modo IA será
extremamente popular.
"À
medida que as pessoas usam os AI Overviews, vemos que elas ficam mais
satisfeitas com os resultados e buscam com mais frequência", disse Pichai
na conferência de desenvolvedores.
"É
um dos lançamentos mais bem-sucedidos da busca na última década."
Em
outras palavras, a Google afirma que isso melhora seu buscador - e é o que os
usuários querem.
Mas
isso não justifica nada, diz Danielle Coffey, presidente da News/Media
Alliance, associação que representa mais de 2.200 veículos de jornalismo e
mídia (a BBC é membro da entidade).
"A
Google não tem o direito de tomar essa decisão de negócio em nome das pessoas
que produzem os bens que estão sendo vendidos."
O
problema, segundo Coffey e outros, é que os editores não têm escolha.
Documentos
internos divulgados em um processo judicial mostram que a Google optou por
"atualizar silenciosamente" suas regras, de modo que, ao participar
da busca, os sites automaticamente autorizam o uso de seu conteúdo para treinar
IA.
É
possível optar por sair —mas só se o site também sair completamente dos
resultados do buscador.
Um
porta-voz da Google diz que esses documentos refletem discussões preliminares e
não representam as decisões finais da empresa - e que os editores sempre
controlaram se seu conteúdo está ou não disponível no Google.
A
empresa afirma ainda que oferece ferramentas para que os administradores
decidam se querem ou não permitir que seu conteúdo seja usado nas respostas do
Modo IA e dos AI Overviews.
"As
respostas da IA são um substituto para o produto original", reforça
Coffey.
"Não
vejo isso como uma proposta de negócio que aceitaríamos voluntariamente."
Nos
últimos 12 meses, tribunais dos EUA concluíram que a Google opera não um, mas
dois monopólios ilegais: nas áreas de busca online e publicidade digital.
Ainda
não se sabe quais serão as consequências, mas uma cisão da empresa está no
horizonte - o que pode enfraquecer o domínio da Google sobre a internet.
A
empresa diz que discorda das decisões judiciais e pretende recorrer. Argumenta
que enfrenta forte concorrência e que uma divisão prejudicaria os consumidores
e frearia a inovação.
Mas
o domínio da Google talvez já esteja começando a se desgastar. Durante os
julgamentos, o executivo da Apple Eddy Cue afirmou que as buscas feitas via
Safari caíram pela primeira vez em 22 anos - provavelmente porque os usuários
estão preferindo chatbots de IA.
A
Google, por sua vez, disse em comunicado que continua vendo crescimento nas
buscas, inclusive em dispositivos Apple.
Uma
pesquisa recente mostrou que quase 72% dos americanos usam, às vezes,
ferramentas de IA como o ChatGPT no lugar de buscadores.
"Acho
que a gente aprende mais quando faz a busca por conta própria", diz Mike
King, fundador da agência de SEO iPullRank. "Mas muita gente sente que não
precisa de tudo isso."
A IA
pode ter custos significativos. "Ela vai criar mais bolhas de filtro,
porque agora é o Google interpretando a informação em vez de apenas
apresentá-la", diz King.
Pesquisas
indicam que chatbots de IA tendem a funcionar como câmaras de eco. "A
informação que você espera receber será reforçada", afirma.
E há
também preocupações centrais sobre a qualidade das respostas.
Alguns
estudos sugerem que os "delírios" da IA (respostas absurdas) estão se
tornando mais frequentes à medida que os sistemas evoluem.
Até
mesmo Sundar Pichai disse, em entrevista a um podcast, que os delírios são
"uma característica inerente" da tecnologia —embora a Google esteja
tentando ancorar as respostas nos métodos tradicionais de busca e afirme que a
precisão está melhorando.
Segundo
a empresa, a grande maioria das respostas com IA é factual e tem precisão
comparável a outras ferramentas do buscador.
Ainda
assim, os deslizes iniciais —como quando os AI Overviews sugeriram que usuários
comessem pedras ou colocassem cola na pizza— permanecem na memória do público.
A
Google age rapidamente para corrigir erros, mas, numa quinta-feira recente de
2025, um ano após o lançamento da ferramenta, a IA afirmou que não era
quinta-feira —nem 2025. "Meu erro."
Pesquisas
indicam que a IA pode até reforçar desinformações que ela mesma inventa -
criando o que cientistas da computação chamam de "chat chambers".
Um
porta-voz da Google afirma que a IA da empresa é projetada para corresponder
aos seus interesses sem limitar o que você encontra na web.
Embora
o espectro da web das máquinas assuste muitos dos que constroem e dependem da
internet, a Google pinta um cenário vibrante.
"Daqui
a cinco anos, vocês ainda verão o Google direcionando muito tráfego para a web.
Esse é o caminho do produto com o qual estamos comprometidos", disse
Pichai ao Decoder.
A
Google afirma à BBC que sua visão é de uma IA que amplia a busca, melhora os
tipos de perguntas que os usuários podem fazer e expande as oportunidades de
criação e descoberta de conteúdo - embora talvez de outras maneiras.
"Não
vou prever o que vai acontecer, porque o futuro, claro, é multifatorial",
diz Cory Doctorow, defensor histórico da tecnologia e autor do livro a ser
lançado Enshittification ("Bostificação", em tradução livre), sobre a
decadência das plataformas online.
"Mas,
se eu ainda fosse alguém que valorizasse o Google como forma de encontrar
informações ou de ser encontrado, estaria realmente preocupado com isso."
Mas
ele também vê uma oportunidade para que usuários pressionem por mudanças.
"É uma crise que não deveríamos desperdiçar", diz Doctorow.
"A
Google está prestes a fazer algo que vai deixar muita gente furiosa. Minha
primeira reação é: 'Ótimo. O que podemos fazer para canalizar essa raiva?' É
uma chance de construir uma coalizão."
Alguns
não estão esperando pela visão do Google se concretizar —ou pela ação de
reguladores.
Matthew
Prince, da Cloudflare, defende uma intervenção direta. Seu plano é fazer com
que a Cloudflare e um consórcio de editores de todos os portes bloqueiem
rastreadores de IA, a menos que as empresas de tecnologia paguem pelo conteúdo.
É
uma tentativa ousada de "redefinir o que é permitido online" e forçar
o Vale do Silício a negociar pelo uso dos dados que alimentam seus modelos. A
Google não respondeu a perguntas sobre essa proposta.
"Meu
cenário mais otimista", diz Prince, "é aquele em que os humanos
acessam o conteúdo gratuitamente —e os bots pagam caro por ele."
Navarro
diz que é difícil não sentir saudade do que talvez esteja se perdendo —mesmo
que algo novo e incrível possa surgir.
"Aquela
internet acontecia quando várias pessoas se conectavam por assuntos que
importavam para elas", lembra, falando sobre um site de fã que criou
quando criança, em espanhol, para a banda Queen.
"Eu
procurava conteúdo sobre o Queen e não encontrava quase nada em espanhol. Então
resolvi criar. Comecei a alimentar a web quando tinha 10 anos, porque sentia
que podia fazer isso", afirma. "Quero acreditar que isso não é o
fim."
Este
texto foi publicado originalmente aqui.
Fonte _ Folha

Nenhum comentário:
Postar um comentário