terça-feira, 12 de abril de 2022

A era das doenças respiratórias: por que continuamos sofrendo com gripe e outros vírus apesar de todos os avanços da medicina?

 


Infecções respiratórias fazem parte de nossas vidas há muito tempo. Só no século 20 e 21, foram ao menos dez epidemias ou pandemias de diferentes doenças. Diferentes subtipos de influenza, os vírus SARS-CoV 1 e 2 e o vírus Zika são exemplos de algumas dessas enfermidades que se espalharam pelos continentes e, às vezes, pelo mundo todo. Entre as últimas pandemias, porém, há um traço em comum: todas elas foram de doenças causadas por patógenos que se transmitem pelo ar e causam doenças respiratórias.

Segundo dados de 2017 da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 650 mil pessoas ao redor do mundo morrem a cada ano por doenças ligadas à gripe sazonal. A epidemia de SARS-CoV que ocorreu em 2003, na China, se disseminou para cerca de 12 países, provocando mais de 800 mortes. O vírus de mesma linhagem, o SARS-CoV-2, que vem causando a pandemia de Covid-19 há mais de dois anos, já causou mais de 5,5 milhões de óbitos ao redor do mundo, podendo ter levado a três vezes mais mortes do que o contabilizado, segundo estudo publicado na revista cientifica The Lancet.

Além de óbitos, essas enfermidades podem deixar sequelas para os infectados. A Covid-19, por exemplo, causa danos que podem, em muitos casos, ser irreversíveis. Entre as possíveis sequelas estão miocardite (inflamação no músculo do coração) e pericardite (inflamação na membrana que reveste o órgão).

Diante desse cenário, é possível dizer que vivemos a “era das doenças respiratórias”? A diretora do Laboratório de Virologia e pesquisadora do Butantan, Viviane Fongaro Botosso, explica que o estudo e descrição dos vírus, como conhecemos hoje, começou nos anos 1920, mas desde a época de Hipócrates há relatos de doenças que causam sintomas semelhantes aos da gripe, causada pelo vírus influenza.



Por que, após séculos de registros de doenças respiratórias e com o avanço das novas tecnologias, ainda enfrentamos surtos e pandemias de vírus transmitidos via oral?

No século 20, tivemos três grandes pandemias; no século 21, já estamos na segunda. Para Viviane Fongaro Botosso, é normal que haja a infecção de certos vírus, pois eles circulam entre nós, mas que é necessário estarmos prontos caso haja outros surtos. “Os órgãos responsáveis estão sempre se preparando para uma possível pandemia”, lembra a pesquisadora.

Doenças como influenza, sarampo, varíola, entre outras, podem ser e foram controladas ou erradicadas por meio da vacinação. Mas quando há uma baixa cobertura vacinal para determinada doença, a volta dela é inevitável. O sarampo, por exemplo, foi controlado em muitos países por meio da vacinação, mas com o relaxamento da imunização em 2017 foram registradas 110 mil mortes no mundo e, em 2019, houve um surto, com mais de 20 mil casos só no Brasil. “Em 2019, a cobertura vacinal não foi o suficiente para barrar a entrada do vírus aqui no Brasil”, relembra Viviane. “Os movimentos antivacina são responsáveis pelo ressurgimento de doenças antes controladas em algumas áreas”, conta.

Além disso, existem doenças para as quais não há vacina. Um exemplo é o vírus sincicial respiratório (VSR ou RSV, na sigla em inglês), patógeno que atinge principalmente a população infantil e causa mais de 200 mil mortes anualmente. “Pela tenra idade das crianças, que não têm um sistema imunológico pronto, ainda não se tem uma vacina que previne o VSR, assim como não há vacina para prevenir uma série de doenças”, conta Viviane. Atualmente, quando é detectada a infecção do vírus em uma criança no hospital, recomenda-se que ela fique em isolamento para evitar que o contágio de outras. “Há uma série de cuidados e tratamentos que podem diminuir a disseminação do vírus e a mortalidade”, completa.

Além da baixa cobertura vacinal, há outros aspectos que contribuem para o surgimento ou ressurgimento de doenças ou variantes de vírus existentes. Entre eles estão o degelo dos polos, provocado pelo aquecimento global, e a destruição de biomas, que coloca o ser humano em contato com o desconhecido. “A mudança em um bioma ou ecossistema favorece o aparecimento de um novo agente infeccioso e, consequentemente, de novas doenças”, conta Viviane. Outro fator é que em algumas culturas, a venda e consumo de animais silvestres é comum. Esse contato direto também propicia o surgimento de novas doenças, mesmo que o animal em questão seja cozido corretamente, eliminando o vírus. “Até chegar nessa etapa, já houve manipulação da carne, do sangue, das vísceras. Nessas partes pode haver a contaminação de vírus diferentes”, diz.



O que fazer para evitar doenças respiratórias

Podemos contribuir para o não surgimento de novas doenças e combater sua proliferação, mantendo o costume de usar máscaras e nos mantendo distante das outras pessoas se estivermos com sintomas de alguma doença respiratória. “São coisas pequenas que não afetam o psicológico das pessoas”, conta Viviane.

Além disso, é essencial manter o cartão de vacinação sempre em dia. Muitos surtos de doenças são causados por variantes de um vírus já conhecido, para o qual se tem vacina – como foi o de gripe que ocorreu no fim de 2021, no Brasil, ocasionado pela variante Darwin do vírus influenza (H3N2). A vacina de gripe, que contém subtipos A H1N1, A H3N2 e B, é atualizada todos os anos com as cepas mais circulantes no hemisfério sul no ano anterior. No entanto, mesmo contendo variante do vírus H3N2 diferente da circulante, o imunizante usado na campanha de 2021 foi capaz de oferecer proteção cruzada contra o vírus

Fonte_BUTANTAN

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