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segunda-feira, 21 de agosto de 2023

ACTA Paulista lança edição especial sobre APS e Práticas Avançadas

 


Uma das revistas científicas mais prestigiadas do Brasil vai publicar uma edição especial sobre Práticas Avançadas de Enfermagem em suas diversas especialidades e sobre Atenção Básica em Saúde, em respostas às demandas do Sistema de Saúde Universal.

Estudantes, profissionais e pesquisadores já podem submeter suas pesquisas à revista ACTA Paulista de Enfermagem, periódico científico da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (EFE/Unifesp). O prazo para submissão de artigos para a edição especial vai até 1º de dezembro de 2023. Para mais informações, você pode acessar o site acta-ape.org.

Conversamos com a editora-chefe da revista, Janine Schirmer, para saber mais sobre essa edição especial. Janine é enfermeira, Mestre em Enfermagem Obstétrica, doutora em Enfermagem Materno-Infantil, livre docente e professora titular da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo, com mais de 30 anos de carreira. Atualmente é diretora e coordenadora do Programa de Residência Multiprofissional em Transplante, Captação de Órgãos e Tecidos da EPE/Unifesp, onde também já foi pró-reitora de administração.

Qual a relevância do periódico científico ACTA Paulista?

É uma revista conceituada, que já tem 36 anos de história e, certamente, hoje está entre as publicações mais importantes da área no país. Um periódico open access (acesso livre) que utiliza a plataforma Scholar One e se conecta com as principais bases de dados do mundo. É uma publicação voltada para a área da saúde, especialmente para a enfermagem. Recebemos submissões de Portugal, da Espanha, da China, enfim, de dezenas de países de todos os continentes. Temos prestígio e respeito internacional.

Como surgiu a ideia de fazer esses números temáticos sobre práticas avançadas e atenção básica em saúde?

A ideia de lançar uma edição especial sobre práticas avançadas e atenção básica em saúde surgiu devido à importância da atenção primária como porta de entrada no Sistema Único de Saúde (SUS) e da necessidade de discutir e promover as práticas avançadas de enfermagem diante das mudanças nas necessidades de saúde da população. O SUS é reconhecido como um sistema equitativo, justo e universal, que tem como missão dar acesso aos serviços de saúde para todos os cidadãos brasileiros e pessoas que vivem em nosso território. A prática avançada, por sua vez, está presente em países desenvolvidos, sob regulamentação de organizações internacionais e nacionais. Trata-se de um modelo de assistência onde enfermeiros especialistas dedicam-se a áreas de especialidade e utilizam conhecimentos sofisticados para tomar decisões clínicas de alta complexidade. Uma área complementa a outra e ambas são essenciais fundamentais.

Qual seu conselho para estudantes e profissionais que consideram impossível publicar na ACTA Paulista?

Que é possível! Nossa revista, é claro, possui critérios de indexação rigorosos. Não é uma revista para relatar casos, mas sim para apresentar pesquisas estruturadas com introdução, método, resultados, discussão e conclusão. Dificilmente você encontrará um serviço de saúde que não tenha uma escola de enfermagem ou medicina associada, com profissionais de saúde envolvidos em alguma forma de estágio. Assim, acho que aqueles que desejam divulgar seu trabalho precisam se aproximar daqueles que estão realizando o estágio na unidade, já que geralmente há um professor acompanhando os alunos. No caso da enfermagem, não é possível fazer um estágio de graduação sem a supervisão de um professor, que geralmente possui mestrado ou doutorado e, portanto, sabe como escrever um artigo científico. Acredito que essa seja uma boa estratégia. Frequentemente, observamos algumas fragilidades nos trabalhos. Não rejeitamos logo de cara, fornecemos sugestões e alternativas. Às vezes, até entramos em contato com o autor por e-mail, para dizer que o tema é muito importante, mas é necessário reescrever. Entendemos as dificuldades, inclusive daqueles que estão em pós-graduação. Não se trata apenas de enfermeiros da prática. Muitas vezes, os pós-graduandos também encontram dificuldades ao enviar um artigo ou manuscrito, e nosso escritório editorial está aqui para ajudar e acolher.

Qual a importância desse trabalho para o SUS?

Mesmo com todas as dificuldades que enfrentamos, temos que reconhecer o SUS como um sistema universal, integral e gratuito. Quando você viaja para outro país, consegue perceber o que significa a desassistência e a sensação de estar desprotegido. Se você tiver uma necessidade de saúde nos EUA, na Europa ou no restante da América Latina, não tem a quem recorrer. Então, esse trabalho que estamos desenvolvendo é para preservar e fortalecer o nosso sistema de saúde.

Qual a necessidade das práticas avançadas no SUS?

As práticas avançadas de enfermagem são essenciais para atender as necessidades complexas de saúde da sociedade, como o envelhecimento da população e o aumento de doenças crônicas e não transmissíveis. Além disso, grupos vulneráveis, como mulheres, crianças e idosos, precisam de assistência adequada em cada especialidade. A pandemia também destacou a importância de atender às necessidades de saúde diante das mudanças climáticas, econômicas e políticas, para garantir a sustentabilidade do sistema de saúde. Portanto, é fundamental contar com práticas assistenciais complexas para atender às demandas atuais.

Qual é o estágio atual das práticas avançadas de enfermagem no mundo?

A prática avançada é defendida desde a década de 1960 e é amplamente adotada nas nações desenvolvidas. Atualmente, existem 35 países da Europa que têm a inserção desse modelo assistencial. É importante ressaltar que já existe regulamentação desse campo pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), pelo ICN (Conselho Internacional de Enfermagem) e pelo Cofen desde 2010. A ABEn (Associação Brasileira de Enfermagem) também tem defendido a importância desse modelo de prática avançada para atender às demandas de saúde. Em termos gerais, a enfermagem de prática avançada envolve enfermeiros especialistas dedicados a áreas específicas, utilizando conhecimentos altamente sofisticados para tomar decisões clínicas complexas. Isso é fundamental.

E no Brasil, qual o panorama das práticas avançadas?

O nosso país possui o maior número de programas de residência, tanto na área da enfermagem como em outras áreas multiprofissionais. Essa experiência é única no Brasil e até mesmo outros países, como os Estados Unidos, buscam assessoria nossa para implementar esse tipo de residência, que é pública e conta com o apoio do Ministério da Educação, que oferece uma bolsa de cerca de 4.200 reais por dois anos de dedicação, assim como ocorre com a residência médica. É importante mencionar que o Brasil investe nessa formação desde a década de 1970 e, atualmente, praticamente todas as escolas públicas brasileiras oferecem programas de pós-graduação, como mestrado e doutorado, em enfermagem. Embora houvesse uma carência de pós-graduações nas regiões Norte e Nordeste, esse panorama está melhorando. Nas regiões Sul e Sudeste, há uma oferta abundante de pós-graduações. Os profissionais desses programas desenvolvem tecnologias em saúde e cuidam de uma ampla e complexa rede de atenção. Embora ainda existam algumas resistências à adoção de práticas avançadas, acreditamos que estamos avançando. O objetivo da revista é justamente despertar o interesse e compartilhar experiências entre enfermeiros que se interessam pelo cuidado especializado. Acreditamos que o periódico possa mostrar à comunidade a realidade e a possibilidade de implementação das práticas avançadas no Brasil.

De que forma a evolução desse processo se relaciona com a informatização da saúde?

Temos a perspectiva de que possamos ter um prontuário eletrônico do SUS. Nesse contexto, é o enfermeiro quem geralmente registra as informações no prontuário, sendo responsável pela documentação e pelo acompanhamento epidemiológico nas unidades básicas de saúde. Na atenção básica, a qualificação dos enfermeiros em práticas avançadas poderia trazer benefícios significativos, proporcionando uma integração mais eficiente com outros serviços públicos, como creches, escolas e até mesmo órgãos de segurança pública. Essa integração é fundamental, pois permite uma abordagem mais abrangente e coordenada, especialmente em casos como violência contra a mulher, onde diferentes instituições precisam atuar em conjunto.

Qual a sua opinião sobre o ensino de enfermagem atualmente e como a senhora imagina o ensino de práticas avançadas em enfermagem dentro dos próximos 10 anos?

Atualmente, a EaD é a maior ameaça à qualidade do ensino. Até considero possível ensinar algumas disciplinas de enfermagem a distância, desde que incorporando novas tecnologias de ensino, algo que aprendemos com a pandemia. Outro problema é o número elevado de escolas e cursos sem credibilidade. Não vou sugerir que essas escolas sejam fechadas. No entanto, gostaria de salientar que não temos atualmente um controle efetivo sobre o ensino de enfermagem nas escolas, o que fragiliza bastante a profissão. É preocupante ver profissionais se formando sem uma supervisão adequada, uma vez que eles serão responsáveis por cuidar de pessoas. Por isso, acredito que o ensino de enfermagem precisa atingir um nível mais elevado. A ABEn, juntamente com o MEC e o Ministério da Saúde, poderiam criar um sistema de acreditação para as escolas de enfermagem. Existem instituições que cobram apenas R$150 por mês para frequentar um curso de Enfermagem e não acredito que seja possível ter um corpo docente e campos de estágios adequados com este recurso financeiro arrecadado. Acredito que nossas instituições precisam avaliar as escolas, os currículos e, quem sabe no futuro, também avaliar a prática dos enfermeiros. Não sei quando isso ocorrerá, talvez daqui a 5, 10 ou 15 anos, mas penso que temos a responsabilidade de avaliar se os enfermeiros merecem ter o título e a qualificação para exercer a profissão. Não se trata apenas da enfermagem, mas também de outras profissões, como medicina e fisioterapia. É crucial que assumamos essa responsabilidade. Quanto ao futuro das práticas avançadas, acredito que precisamos estabelecer uma aliança entre as necessidades do SUS, a formação acadêmica e o investimento em pós-graduação. Utilizamos o dinheiro público para isso e, portanto, é preciso investir na formação de profissionais qualificados. Temos a responsabilidade de unir essas três entidades – CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e o Ministério da Ciência, Tecnologia, Educação – para discutir como implementar práticas avançadas de enfermagem. O Brasil é um país de enorme extensão territorial e precisamos encontrar maneiras de garantir o acesso à saúde para todos os locais que atualmente não possuem. A formação em práticas avançadas de enfermagem pode ser uma alternativa, uma vez que o SUS possui políticas públicas estabelecidas com protocolos definidos. Se formarmos enfermeiros qualificados, juntamente com residência e mestrado em práticas avançadas, esses profissionais podem se tornar lideranças e possibilitar o acesso à saúde em todo o país. Isso também ajudaria na redução de custos. Daqui a 10 anos, espero estar aposentada e observar esse processo acontecer.

Fonte_COFEN

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