Na
semana em que o número de casos de Covid-19 no Brasil chegou a 3 milhões e o de
mortes atingiu a marca histórica de 100 mil, mais do que nunca os desafios
impostos pelo novo coronavírus requerem atenção. Além das iniciativas de
assistência social e econômica, a pandemia demanda ações rápidas, efetivas e
antecipadas na área da saúde –marcada pela prevalência dos rostos de mulheres.
Segundo
o relatório “Covid-19: Um Olhar para Gênero” do Fundo de População das Nações
Unidas (da sigla em inglês UNFPA), 70% da força de trabalho ligada à área da
saúde no mundo é feminina. No Brasil, os números são parecidos. O Conselho
Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), indica que 65% dos seis
milhões de profissionais do setor são do sexo feminino –em áreas como
fonoaudiologia, nutrição e serviço social elas ultrapassar 90% de presença, e
80% em enfermagem e psicologia.
Quando
são levadas em consideração apenas as profissões de médico, agente comunitário,
técnico de enfermagem e auxiliar de enfermagem, dados do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA) 2020 apontam que a força de trabalho feminina ocupa
78,9% dos postos.
A
presença massiva de mulheres pode, ao mesmo tempo, representar uma vitória, em
questão de presença equitativa profissional, mas também uma derrota. Para Elizabeth
Hernandes e Luciana Vieira, autoras do artigo “A Guerra Tem Rosto de Mulher:
Trabalhadoras da Saúde no Enfrentamento à Covid-19”, a área da saúde, que
envolve cuidados com terceiros, sofre um fenômeno social chamado de
feminilização: quando a presença de mulheres implica no valor atribuído às
ocupações e os cargos passam a ser socialmente considerados de menor
qualificação, remuneração e prestígio.
Entre
os médicos, profissão de maior remuneração e reconhecimento, os homens ainda
são maioria (52,5%) e possuem salários maiores do que mulheres em postos
equivalentes. O estudo de Demografia Médica da Faculdade de Medicina da USP
(FMUSP) diz que as mulheres têm menor probabilidade de chegar ao topo salarial
e estão nos patamares mais baixos de remuneração no Brasil: 80% delas recebe
até US$ 7.175, enquanto 51% deles recebe acima deste valor. Ainda com
informações do estudo, homens têm 17,1% de chance de chegar ao topo da
remuneração da categoria, já as mulheres apenas 4,1%, probabilidade mais de
quatro vezes menor em comparação aos colegas do sexo masculino.
A
presença das mulheres na linha de frente do combate à Covid-19 implica também
em maior risco de contaminação e, consequentemente, óbitos. Espanha e Itália,
países fortemente afetados pela transmissão do novo coronavírus, identificaram
que 72% e 66% dos profissionais da saúde infectados são mulheres.
Mesmo
diante de inúmeros indicativos desanimadores, elas continuam na busca por
ocupar espaços e realizar trabalhos relevantes para a sociedade.
Conheça,
seis mulheres brasileiras na liderança do combate à crise de Covid-19 e seus
feitos:
Elizabete
Mitsue Pereira é doutoranda pela Escola de Enfermagem da USP e
Coordenadora da Atenção Básica do Instituto de Atenção Básica e Avançada à
Saúde (IABAS)
Papel
durante a pandemia de Covid-19: Elizabete foi responsável pela implantação do
maior hospital de campanha do Brasil, o Hospital de Campanha Anhembi.
A
frente do Hospital de Campanha do Anhembi, Elizabete acredita que os desafios
impostos pela pandemia de Covid-19 são muitos e mudam conforme as necessidades,
mas um obstáculo recorrente é a estrutura, em sua implementação e gestão.
“Temos 72 mil metros quadrados de hospital, a logística é o maior desafio. Por
se tratar de uma doença nova, enfrentamos também um déficit quanto a
profissionais treinados e, por isso, precisamos pensar em atividades mais
intensivas de capacitação. Um ponto positivo é que conseguimos implantar o
prontuário eletrônico –isso possibilitou o monitoramento de indicadores em
tempo real, tanto presencialmente quanto a distância.” O Hospital de Campanha
do Anhembi tem capacidade para atender 1.410 pacientes simultaneamente.
Enfermeira
de formação e responsável pelo Hospital da Brasilândia, que atende
exclusivamente pacientes graves de Covid-19 em 115 leitos, Elizabete diz que
outro desafio está ligado ao psicológico das equipes de atendimento. “Existe
uma angústia muito grande de se contaminar e levar a doença para casa.
Identificamos quadros de ansiedade e, pensando nisso, implementamos um trabalho
voltado para a saúde mental dos profissionais.”
Sobre
as iniciativas para combater a doença, Elizabete ressalta a necessidade de
avaliar cada cenário. Ela acredita que em nível local é preciso tentar manter
as pessoas o máximo possível em casa, além de incentivar o uso de máscaras e a
higienização das mãos. No âmbito hospitalar, preparação contínua e informação é
a chave. “A capacitação deve ser sempre atualizada, e os profissionais devem
ser preparados para lidar com o ambiente de trabalho e fora dele –amigos,
familiares e como manter-se protegido fora de casa.”
Novo
normal
“Abri mão de muita coisa. Sou uma pessoa que trabalha com horários, faço atividade física e mantenho uma boa alimentação. Com o ritmo intenso de trabalho, houve dias em que não me alimentei”, diz Elizabete. “Acabei me distanciando da minha família e da minha filha (Giulia, 17 anos). Perdi a noção do que é fim de semana e feriado. O que me motiva é salvar vidas e a esperança de que tudo vai ficar bem.” Desde abril, a equipe de Elizabete conseguiu salvar mais de 2.800 pessoas infectadas com Covid-19.
“Abri mão de muita coisa. Sou uma pessoa que trabalha com horários, faço atividade física e mantenho uma boa alimentação. Com o ritmo intenso de trabalho, houve dias em que não me alimentei”, diz Elizabete. “Acabei me distanciando da minha família e da minha filha (Giulia, 17 anos). Perdi a noção do que é fim de semana e feriado. O que me motiva é salvar vidas e a esperança de que tudo vai ficar bem.” Desde abril, a equipe de Elizabete conseguiu salvar mais de 2.800 pessoas infectadas com Covid-19.
Dra.
Ludhmila Hajjar, Professora da Universidade de São Paulo, médica cardiologista, porta-voz da
Sociedade Brasileira de Cardiologia e chefe de UTI no Hospital da Clínicas de
São Paulo, Papel
durante a pandemia de Covid-19: Treinamento de médicos para combate à doença e
cuidado de pacientes infectados; participação ativa nas reuniões de atualização
sobre o avanço do novo coronavírus no país.
Como
cardiologista, uma das principais frentes de atuação e estudo de Ludhmila
Hajjar, tem sido no impacto da doença no coração e formas de tratamento mais
eficazes. Para a doutora, o principal desafio do momento é o treinamento dos
profissionais da saúde e estrutura de atendimento. “É preciso capacitar pessoas
de todos os locais. Em junho, a doença estava avançando para regiões
interioranas e setores periféricos. Então, a preocupação é a capacitação e a
estrutura de atendimento”, diz Ludhmila que ressalta: “Esse não é o único
desafio da Covid-19. Precisamos ter em mente que outros tratamentos como o de
doenças cardíacas, cerebrovasculares e câncer não podem parar, mesmo diante da
crise”. Durante a pandemia do novo coronavírus, especialistas médicos de
diferentes áreas foram remanejados para assegurar atendimento aos infectados
pela doença, o que reduz a força de trabalho disponível para suprir a demanda
de outras patologias.
Ludhmila
acredita que a chave para combater a pandemia é uma junção de trabalho em
conjunto e comunicação. “Precisamos ter linguagem única e trabalhar de forma
unificada em todas os extratos. O governo precisa prover sustentação economia
aos vulneráveis e o isolamento deve acontecer de forma responsável e
monitorada.” A doutora acredita que a doença possa causar novos picos de
infecção e que, neste sentido, o papel da ciência é fundamental na orientação,
assim como o apoio internacional.
Novo
normal
A crise tem transformado a rotina de Ludhmila, antes atuante no tratamento de
pacientes com problemas no coração e câncer, hoje, a doutora atua nos cuidados
de infectados graves de Covid-19 e treinamento de profissionais 80% do tempo.
“Não existe fim de semana e feriado. Me sinto honrada, somos os soldados e
precisamos fazer o possível para deixar o exemplo.” Esperançosa, ela não pensa
o momento como uma crise: “Vamos utilizar esse momento para implementar
mudanças que não ocorreram antes, com foco em tecnologia saúde e educação, para
ter uma sociedade mais justa e menos desigual”.
Margareth
Dalcolmo é pneumologista e pesquisadora clínica da Fiocruz Papel
durante a pandemia de Covid-19: Assistência a pacientes; pesquisa de doenças do
trato respiratório e membro das discussões e protocolos de orientação sobre a
Covid-19.
Enquanto
pesquisadora Fiocruz, Margareth Dalcolmo tem nas mãos o desafio de analisar
estudos e todo o material científico produzido sobre o novo coronavírus, a fim
de propor as melhores saídas em tratamento e orientação à população. “Estou na
questão assistencial nos protocolos, na análise de toda a literatura, no
fornecimento de informações para imprensa médica e leiga”. Em um momento em que
a definição sobre o comportamento completo da doença e tratamentos ainda não
são totalmente conclusivos, o que impressiona é o grande esforço da classe
científica em produzir conhecimento sobre o assunto. “São mais de 40 mil
artigos produzidos, nunca houve uma avalanche de informações tão grande quanto
temos agora. São estudos que vão de melhores práticas a tratamentos, fármacos,
infecção, reinfecção e condutas.”
Para
ela, os desafios do momento são multidisciplinares e passeiam entre informar a
população corretamente com informações confiáveis, promover políticas de saúde
pública, reduzir a mortalidade, aumentar a testagem da população e incentivar a
participação do setor privado para mitigar a exclusão social. “Isso não é uma
responsabilidade só do governo, mas também da sociedade brasileira.” Para
estimular a participação do setor privado, a Forbes traz na edição impressa de
número 78 a lista das “100 Maiores Empresas Doadoras” do país que, juntas,
destinaram mais de R$ 5,4 bilhões contra a Covid-19.
No
combate à pandemia, Margareth apela para um lado pouco pensado da crise: o
saneamento básico. Além da necessidade de levar informação, a médica ressalta
que metade da população brasileira não tem rede de esgoto tratado e mais de 40
milhões vivem sem água tratada. Tal ponto requer atenção, uma vez que as boas
práticas de higiene são primordiais para frear a disseminação da doença causada
pelo novo coronavírus. “A crise pode resultar em uma mudança de olhar
humanitário e justiça social. Somos a nona maior economia do mundo.”
Sobre
o momento certo de procurar assistência médica, Margareth comenta sobre a
mudança de postura: “Revimos alguns conceitos. No início, dissemos que as
pessoas não deveriam procurar a unidade de saúde a não ser em casos graves.
Hoje está muito claro que diante de sintomas é preciso ir ao médico. Muitas
pessoas morreram em casa sem ajuda.”
Novo
normal
“Sabíamos que a doença chegaria aqui. Ela chegou e mudou a vida dos profissionais da Fiocruz de forma surpreendente. Precisamos remanejar os turnos para diminuir o grau de contaminação e passamos a usar mais equipamentos de proteção –com a mesma indicação para os pacientes.”
“Sabíamos que a doença chegaria aqui. Ela chegou e mudou a vida dos profissionais da Fiocruz de forma surpreendente. Precisamos remanejar os turnos para diminuir o grau de contaminação e passamos a usar mais equipamentos de proteção –com a mesma indicação para os pacientes.”
Mariângela
Simão é vice-diretora geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Papel
durante a pandemia de Covid-19: Garantia de acesso a fármacos e vacinas em
pesquisa para países menos favorecidos economicamente, por meio de políticas e
acordos de uso equitativo.
Atuante no corpo de liderança da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mariângela
defende que a maior prioridade do momento é a busca por medicamentos efetivos
para o combate à Covid-19 e uma vacina eficaz. “A proposta de ter um
medicamento adequado não necessariamente envolve a diminuição dos dias de
internação, mas, sim, da mortalidade. Fora a dexametasona, não tem nenhum
tratamento específico comprovadamente eficaz. Quanto à vacina, a procura é por
uma que possa ser utilizada em larga escala. Temos em torno de 1.580 candidatas
e, dentro deste número, 15 em fase adiantada de desenvolvimento.” O segundo
passo para a vice-diretora é garantir que os recursos estejam disponíveis para
todos que precisam, com garantia de que haja solidariedade internacional. “Uma
preocupação são os acordos bilaterais. É preciso pensar globalmente, ainda mais
diante de uma crise que envolve um vírus respiratório. Enquanto houver surto em
um único país, nenhuma outra nação estará segura.”
Ela
diz que cada nação requer atenção e medidas distintas. “Os países estão
passando por diferentes momentos: tem situações de lugares afetados por
conflitos, com refugiados e outros com uma logística ruim em sistema de saúde
ou com maior proteção social. Em cada um deles o impacto é diferente e neste
ponto que entram os governantes”. Para ela, os líderes precisam trabalhar com
boa comunicação e garantir a confiança da população local para que as
orientações sejam seguidas pelos cidadãos. “O respeito é um questão importante.
Se você não confia na autoridade, nada é feito.”
Novo
normal
“É um trabalho interminável e contínuo, sem feriados e fins de semana. Precisamos acelerar a busca por soluções tecnológicas e desempenhar um trabalho intenso enquanto organização com parceiros para aumentar a velocidade das pesquisas e desenvolvimento de diagnósticos. A rapidez, nesse momento, é fundamental para poupar vidas.”
“É um trabalho interminável e contínuo, sem feriados e fins de semana. Precisamos acelerar a busca por soluções tecnológicas e desempenhar um trabalho intenso enquanto organização com parceiros para aumentar a velocidade das pesquisas e desenvolvimento de diagnósticos. A rapidez, nesse momento, é fundamental para poupar vidas.”
Apesar
da intensa carga de trabalho, Mariângela diz que, em paralelo, a antiga rotina
de trabalho ainda existe. “As pessoas continuam precisando de medicamento para
outras doenças. O que a pandemia trouxe foi acréscimo de demanda”.
Eloisa
Bonfá é reumatologista e diretora Clínica do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), Papel
durante a pandemia de Covid-19: Atua na gestão do Hospital das Clínicas e em
sua transformação em centro para tratamento de Covid-19 e é coordenadora do
comitê de crise do HC.
Com
mais de trintas clínicas diferentes, o Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) foi transformado para atender
apenas pacientes com Covid-19. “O instituto foi inteiramente esvaziado e
dedicado apenas ao novo coronavírus. Registramos mais de 3.000 internações e
200 pessoas que obtiveram alta”, diz Eloisa Bonfá.
Ela
afirma que durante o processo de atendimento a doentes com Covid-19 foi
verificada a necessidade de dedicar espaços de enfermaria para diferentes
perfis de pacientes, como crianças, gestantes e pessoas com quadros
psiquiátricos. E o maior desafio da transição foi “organizar a equipe
multidisciplinar e de diferentes especialidades porque não tínhamos
intensivistas suficientes. Montamos times de atendimento rápido para intubação,
fazer acesso venoso e de pronação (técnica de colocar o paciente de bruços para
aumentar o fluxo sanguíneo)”. A médica diz que manter a equipe motivada também
é um esforço constante: “Eles também têm receios. Conseguir com que as pessoas
aceitem fazer parte da linha e frente é um trabalho árduo”.
Para
a doutora, a maior meta do momento é conseguir desmobilizar parte das alas de
Covid para que o hospital possa voltar a atender pacientes graves de outras
especialidades. “O objetivo agora é trabalhar com um ‘novo normal’, onde
possamos manter uma área destinada à Covid-19, mas atender também os paciente
graves de outras frentes porque ficaram desassistidos nesse processo”. Outro
compromisso do HC para o momento é tentar minimizar as perdas enquanto hospital-escola.
“Obviamente houve ganho em experiência profissional, mas precisamos trabalhar
para recuperar o que foi perdido por conta do prazo de formação dos alunos”,
afirma.
Como
ponto positivo em meio à crise, Eloisa destaca o volume de doações recebidas pelo
hospital. “Neste período todo, recebemos doações da sociedade em níveis que
nunca vimos antes. Esse é um caminho interessante que veio para ficar.”
Novo
normal
“Eu trabalhava no prédio administrativo e fazia minhas atividades na área da
reumatologia. Nunca mais fiz isso. Passei a ficar apenas no instituto, não tem
sábado nem domingo. Trabalhamos pelo menos 11 horas por dia e, quando chegamos
em casa, precisamos nos isolar”, comenta a doutora. “Somos um hospital sólido
com 76 anos, e essa foi a maior guerra que já enfrentamos”.
A
médica também ressalta que um grande aprendizado do momento foi o benefício que
traz uma boa comunicação. “Comunicar envolve acolher e entender muitas vezes
que a pessoas está irritada com você, mas com a situação. Em tempos de crise, a
comunicação assertiva é fundamental porque são muitos problemas para lidar ao
mesmo tempo. Quando feita da maneira correta, ela faz você ganhar parceiros e
aliados”.
Ester
Sabino é imunologista e professora da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, Papel
durante a pandemia de Covid-19: Responsável pelo sequenciamento do genoma do
vírus no Brasil em 48h, além de análise de kits de comerciais de diagnóstico e
desenvolvimento de tecnologia de monitoramento remoto de pessoas com sintomas.
Ester
Sabino ficou conhecida nacionalmente após sequenciar o genoma do novo
coronavírus no Brasil em apenas 48h. Apesar do grande feito, a médica
imunologista diz ter ficado surpresa com a repercussão. “Fiquei tentando
entender, não estava esperando. O projeto é interessante, mas não é uma grande
descoberta científica. Acredito que teve muito impacto pelo tempo levado. Tenho
trabalhado em várias áreas. O sequenciamento foi a primeira e tem sido feito
esquematicamente –até o final do mês de abril, fizemos quase 500 sequências do
vírus.”
Após
o alcance das notícias, a equipe da doutora que foi a primeira a sequenciar o
vírus na América Latina e é composta 60% por mulheres, recebeu aporte R$ 200
mil da Alway, para auxiliar as pesquisas que buscam entender a curva de
crescimento da Covid-19 no Brasil.
Entre
outras atividades, a professora tem dedicado esforços também na análise de kits
comerciais de diagnóstico de Covid-19 e faz parte do time de pesquisadores que,
junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp),
desenvolveu uma plataforma para monitoramento remoto de pessoas com sintomas da
doença em São Caetano do Sul, lançada em 6 de abril.
Entre
os desafios enfrentados está o alto custo do sequenciamento. “Pelo vírus e pela
tecnologia para o estudo serem importados, eles são caros e não chegam no tempo
certo. Com a explosão do número de casos pelo mundo, a busca pelo material
ficou ainda mais cara”, conta. Outro ponto abordado pela cientista é o de que
“existe uma lacuna grande de investimento e os laboratórios brasileiros são
carentes no apoio à infraestrutura. Tudo o que precisamos agora é de estrutura
para continuar o desenvolvimento das pesquisas”. Ester afirma que ainda assim o
momento é de cooperação e que pesquisadores de outras áreas tem trabalhado em
prol de estudos voltados para a doença.
A
pesquisadora também tem trabalhado em um projeto de prevalência sanguínea
voltado para a Covid-19. O estudo, com apoio do banco Itaú busca definir a
prevalência em bancos de sangue em tempo real, com dados analisados de forma
rápida. “Isso pode ser interessante para qualquer outra ferramenta que possa
surgir”, diz.
Em
23 de julho, a “Science”, uma das revistas científicas mais importantes do
mundo, publicou um artigo sobre as características de disseminação do novo
coronavírus no Brasil. O artigo publicado intitulado “Evolution and epidemic
spread of SARS-CoV-2 in Brazil” (“Evolução e disseminação epidêmica do
SARS-CoV-2 no Brasil”, na tradução livre) foi um estudo coordenado por Ester,
de coautoria dos doutores Celso Granato e Carolina Lázari, do grupo Fleury, e
em parceria com a Universidade Oxford.
Novo
normal
“Minha rotina mudou muito. Fiquei praticamente focada na Covid-19. Precisei
parar o atendimento de pacientes com chagas e anemia falciforme que realizava
antes. No mais, acredito que a pandemia tem uma mensagem de coordenação que
ainda não foi assimilada: todo mundo está tentando fazer muito, mas sem
pactuação, trabalho em conjunto e um plano de resposta efetivo tudo fica mais
difícil”
Fonte_COFEN
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