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sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Entenda como funciona a tecnologia VLP, utilizada no desenvolvimento da vacina contra o HPV


Você sabe como é produzida a vacina contra o HPV, que protege contra diferentes tipos de câncer? Ela é feita a partir de partículas semelhantes ao vírus (VLP, do inglês virus like particles). Baseada em engenharia genética, a tecnologia consiste em desenvolver uma molécula contendo a principal proteína da superfície do vírus, a L1, mas sem o DNA viral que normalmente fica dentro do vírus. A partícula criada em laboratório “imita” a estrutura do vírus, fazendo o sistema imune acreditar que ela é uma ameaça. Por não conter o material genético do patógeno, a estratégia é considerada extremamente segura e sem risco de causar infecção.

“A vantagem é que a VLP consegue entrar nas células como se fosse o vírus, induzindo uma resposta celular elevada, além de induzir resposta humoral [de anticorpos]. É um imunizante seguro inclusive para grupos vulneráveis, como imunossuprimidos, já que é incapaz de se replicar e provocar doença”, explica a diretora do Laboratório de Biotecnologia Viral do Butantan, Soraia Jorge, que trabalha no desenvolvimento de VLPs contra o vírus da raiva, SARS-CoV-2 e zika.

O imunizante utiliza essa plataforma porque as proteínas do HPV têm uma característica específica: elas são capazes de se agrupar naturalmente em partículas semelhantes ao vírus inteiro, quando expressas em diferentes sistemas (como em bactérias ou leveduras, por exemplo). “A L1 é a maior proteína estrutural do HPV e a mais prevalente na superfície, capaz de induzir alta resposta imune. Por isso ela foi escolhida como antígeno para compor a vacina”, diz a pesquisadora.

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Diferente de vírus como o SARS-CoV-2 e o influenza, o HPV é mais simples, com apenas duas proteínas na superfície. Além disso, não possui envelope ao seu redor (membrana de lipídios). De acordo com Soraia, o exterior do vírus é o próprio capsídeo, uma espécie de “capa” de proteínas que envolve o material genético, facilitando a construção de VLPs.

As partículas semelhantes ao vírus podem ser produzidas com diferentes técnicas, utilizando células de inseto, fungos ou bactérias para expressar as proteínas virais. Outras vacinas que adotam essa plataforma são a da hepatite B, a Flublok, imunizante tetravalente contra influenza da Sanofi, e a Mosquirix da GSK, contra a malária.

E não é só na imunização que essa tecnologia pode contribuir. De acordo com uma revisão publicada recentemente na Frontiers in Microbiology, estudos indicam que as VLPs podem ser usadas para auxiliar no tratamento de doenças infecciosas como HIV, gripe, hepatite B, malária, Ebola, Covid-19, zika, dengue, entre outras, por meio do desenvolvimento de vacinas terapêuticas. Diferente dos profiláticos, que previnem infecções, os imunizantes terapêuticos estimulam o sistema imune para combater uma doença já instalada.



Outra vantagem de imunizantes baseados em VLP, segundo o artigo, é a facilidade de atualização contra novas cepas de vírus: elas podem ser preparadas dentro de 12 a 24 semanas após o sequenciamento de uma variante, enquanto as vacinas convencionais geralmente exigem 24 a 32 semanas para serem fabricadas.

A técnica também tem sido empregada por meio de nanopartículas para entregar medicamentos em locais específicos do corpo. Isso porque os fármacos em geral costumam ter ação sistêmica, em todo o organismo, e um dos desafios da ciência é encontrar formas de direcionar o tratamento para a região afetada.

Além de VLPs, os imunizantes virais também podem ser atenuados, inativados, de subunidade, de DNA ou de RNA mensageiro. Vale ressaltar que todas as plataformas são seguras e validadas por ensaios clínicos e órgãos reguladores antes de as vacinas chegarem à população. “São diferentes estratégias para apresentar o antígeno à célula e induzir resposta imune. A plataforma escolhida depende muito das características do vírus para o qual se quer desenvolver a vacina”, destaca Soraia.

Fonte_BUTANTAN

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