Em um
momento decisivo para a valorização da Enfermagem brasileira, o jornal
norte-americano The New York Times
publicou, na semana passada, extensa reportagem sobre como a pandemia alavancou
a valorização da categoria naquele país. Com histórias da linha de frente, o
periódico deu exemplos de como a emergência sanitária pressionou a demanda por
trabalhadores e de que formas a escassez de mão de obra resultou em
valorização.
A
reportagem acompanha a história de Solomon Barraza, enfermeiro de Amarillo, uma
cidade do interior do Texas. Com 30 anos em 2020, ele já se via responsável por
uma equipe de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) depois de doze meses de
experiência no hospital. Sua rápida promoção se deveu à falta de profissionais
e ele logo enfrentou mais problemas com sua equipe reduzida. A UTI chegou a ter
uma evasão de 80% nos quadros por variados motivos. Alguns se aposentavam, mas
a grande maioria encontrava melhores oportunidades de trabalho em centros
urbanos como a cidade de Nova York.
País
conhecido pelas relações de trabalho precárias, os EUA resolveram em parte o
problema de escassez de mão de obra na Saúde com oportunidades para enfermeiros
itinerantes, esvaziando de profissionais cidades menores e mais pobres para
servir emergências de localidades que pagavam mais. “Com a emergência da
pandemia, posições abriram em hospitais de todo o país e a Enfermagem teve mais
opções que nunca”, diz a reportagem.
E não
apenas a remuneração ficou melhor: profissionais puderam escolher mais
livremente turnos de trabalho e dias de serviço, percebendo ao final do mês
remunerações superiores mesmo com menos horas trabalhadas. Mas ficou evidente
também o desgaste laboral e a evasão de profissionais, além das
falhas do Sistema de Saúde dos EUA, que não possui cobertura universal e
gratuita como o SUS brasileiro. O número de mortes desde o início da pandemia
nos EUA superou 934 mil. No Brasil, oficialmente quase 650 mil pessoas perderam
suas vidas até meados de fevereiro de 2022.
“Passados
dois anos, profissionais da Enfermagem testemunharam centenas de milhares de
mortes. Viram-se em meio a uma doença usada politicamente e enfrentaram
incontáveis familiares em luto raivoso. Muitos deles desistiram. Procuram por
empregos fora do hospital. Outros simplesmente deixaram seus lares e suas
famílias para realizar outro trabalho mais bem remunerado. ‘A Enfermagem
finalmente percebeu seu próprio valor’, disse ao jornal Nora Shadix, enfermeira
de UTI. ‘Não acredito que volte a trabalhar como era antes. Não acho que vão se
conformar.’”
O
jornal menciona ainda a escassez de mão de obra para a Enfermagem, que deve se
agravar mesmo com 153 mil enfermeiros graduados todos os anos nos EUA. “Serão
necessários centenas de milhares de novos profissionais para
reconstruir o setor da Saúde norte-americano”, publicou o jornal. E destaca que
a remuneração é um bom motivador. “Cria a sensação de que este duro trabalho
vale a pena.”
Piso
da Enfermagem no Brasil – A pandemia também demonstrou no Brasil
a importância da Enfermagem. Em um país diferente
pela existência do SUS, que garante saúde pública a toda a população, e com
relações de trabalho geralmente balizadas pelas leis trabalhistas, não se pode
deixar para o mercado de trabalho regular os salários. Não se trata apenas de
uma questão de respeito, que já tarda décadas, mas também uma forma de garantir
a boa prestação de serviço.
Tramita
na Câmara dos Deputados o PL 2564, que cria o piso nacional da Enfermagem no
Brasil. Mobilizações por todo o país estão marcadas em apoio à sua aprovação .
A
proposta do piso estabelece salário mensal a partir de R$ 4.750 para
enfermeiros e remunerações proporcionais de 70% do valor para os técnicos e 50%
para auxiliares e parteiras, corrigidos pelo INPC (Índice de Preços ao
Consumidor).
Na
avaliação da presidente do Conselho Federal de Enfermagem, Betânia Santos, “o
texto atual é fruto de muita conversa e de um acordo que já leva em consideração
limitações orçamentárias e diferenças regionais”. A aprovação no Senado no ano
passado, por unanimidade, foi resultado dos esforços de construção de pontes
com todos os envolvidos e, agora, a luta é na Câmara dos Deputados. A previsão
é de que o Grupo de Trabalho que analisa os impactos financeiros do piso
conclua seus trabalhos até o fim desta semana. Findo este prazo, a matéria pode
ir à votação no plenário em regime de urgência.
Fonte_COFEN
Nenhum comentário:
Postar um comentário