Aline Queiroz Santos, com os filhos Kauan e Isadora, se recuperou da doença, mas se preocupa com o contágio quatro vezes maior que entre médicos |
Dados
do Boletim Epidemiológico divulgado pela Prefeitura de Belo Horizonte (veja
quadro) mostram que os técnicos de enfermagem são os profissionais de
saúde que mais testaram positivo para a doença em BH. O grupo inclui 128
homens e mulheres ou mais de 43% de um universo de 294 profissionais que se
contaminaram na rede SUS da capital, suplantando de longe o segundo lugar, em
que aparecem os enfermeiros (37, ou 12,6%), os agentes comunitários de saúde
(32, 10,8%) e os médicos, em quarto (31, 10,5%).
Para
a técnica de enfermagem, os números servem também de alerta. “Muitas vezes, as
pessoas conversam perto umas das outras, sem máscara, achando que por serem
conhecidas não há perigo. É um engano. Temos sempre que tomar cuidado”, afirma
a profissional, residente em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de BH,
e que não sabe exatamente como foi contaminada pelo novo coronavírus.
Em
nota, o Grupo Santa Casa BH informa que criou o Centro Especializado em Saúde
do Trabalhador (Rua Ceará, 460, no Bairro Santa Efigênia) para atender
exclusivamente aos funcionários da instituição, incluindo estagiários,
especializandos e residentes. O serviço funciona de segunda a sexta-feira, das
7h às 19h, e conta com médicos, enfermeiros, técnicos em patologia e psicólogos
para ajudar no controle e cuidado durante a pandemia. O objetivo é
disponibilizar um atendimento diferenciado à equipe que está na linha de frente
no combate ao coronavírus.
A
superintendente de Recursos Humanos da instituição, Clarinda Macedo, explica
que o atendimento ocorre de maneira completa e por etapas. “No primeiro sinal
ou sintoma respiratório, o gestor encaminha o trabalhador para o Centro
Especializado. Lá, o paciente passa por avaliação médica, para verificar se é
um caso de doença crônica respiratória, como asma, sinusite e rinite, ou uma
síndrome gripal. Se o diagnóstico for de síndrome gripal, o funcionário é
afastado por dois dias inicialmente e realiza coleta de material para exames.
Após o período, se estiver assintomático e o resultado for negativo, retorna ao
trabalho com orientação de usar os equipamentos de proteção individual (EPI)
durante toda a jornada. Se ainda tiver sintomas, passa por nova avaliação”,
explica.
A
nota informa que desde março a prefeitura disponibiliza local exclusivo para a
realização de testes nos profissionais de saúde que atuam no município. E a
Saúde municipal elabora e divulga periodicamente notas técnicas com orientações
sobre equipamentos de proteção e roupas dos profissionais que prestam
assistência direta aos pacientes com suspeita de COVID-19.
Os
documentos também listam os acessórios de proteção para cada grupo
profissional, conforme a área de atuação nas unidades de saúde. “Além disso, há
orientações sobre a conduta dos profissionais sintomáticos e assintomáticos,
com contato domiciliar confirmado para a doença, e as medidas a serem tomadas.
As notas técnicas são atualizadas conforme a necessidade e seguindo as
orientações do Ministério da Saúde”.
“É
importante ressaltar que a rede SUS-BH conta com estoque abastecido de
equipamentos de proteção individual. A categoria da enfermagem, que engloba
enfermeiros e técnicos, tem o maior número de profissionais atuando nas
unidades de saúde. Em consequência disso, a exposição ao vírus pode ser mais
recorrente. Os profissionais seguem protocolos e trabalham com os equipamentos
de proteção individual recomendados”, diz o texto.
Depoimento
“Se
eu peguei, qualquer um está sujeito”, Flórida da Silva Aleixo, de 47 anos,
técnica de enfermagem “Trabalho
nos hospitais Risoleta Neves e do Ipsemg. Em 24 de junho, senti os primeiros
sintomas: febre e fraqueza. Depois a prostração foi se agravando, perdi paladar
e olfato, e no sétimo dia tive falta de ar. No Risoleta, aconselham os
profissionais de saúde a buscar atendimento médico caso sintam algum sintoma.
Foi o que fiz, já no primeiro dia: fui ao Cecovid, unidade de atendimento do
hospital destinada a pacientes e trabalhadores com sintomas respiratórios
durante a pandemia. Lá, fui muito bem atendida pela médica e fizeram o teste
para COVID-19. Fui afastada do trabalho inicialmente por quatro dias. No
terceiro dia, minha coordenadora ligou dizendo que meu exame dera positivo e
então permaneci afastada até completar 14 dias, para não ter risco de
transmitir para ninguém.
Como
também trabalho no Ipsemg, passei por atendimento médico, porque tinha que
deixar a instituição ciente do meu quadro de saúde. Moro com minha filha de 12
anos. Não foi fácil esse período em relação às compras das coisas para casa,
pois não tinha outro adulto que pudesse ajudar. Onde eu peguei a COVID-19? Não
dá para saber. Apesar de trabalhar em dois hospitais, sou muito cuidadosa, me paramento
toda com os equipamentos de proteção individual necessários. Ficava pensando:
se até eu peguei, qualquer um está sujeito a se infectar. Posso ter pegado na
rua, no deslocamento de ônibus, em qualquer lugar. Depois de 14 dias de
afastamento, retornei ao trabalho em 8 de julho. Hoje estou superbem, só meu
paladar ainda não está 100%.”
Hospitais
seguem protocolos de ação
A
assessoria do Hospital Risoleta Tolentino Neves informa que, desde o início da
COVID-19 no Brasil, vem acompanhando as orientações dos órgãos sanitários,
adequando processos e fluxos e realizando divulgações junto aos públicos de
relacionamento. Em março, foi criado um Comitê Interno de Enfrentamento à
COVID-19 e, desde então, são realizadas reuniões sistemáticas para a definição de
ações importantes na pandemia.
Já
o Ipsemg informa que segue todos os protocolos para o enfrentamento da COVID-19
recomendados por órgãos estaduais e federais e disponibiliza equipamentos de
proteção preconizados para cada atividade. Todos os profissionais foram
treinados quanto à forma correta de se paramentar e desparamentar. Os
protocolos, conforme a especificidade da atividade, também estão disponíveis
para acesso na intranet da instituição. Nota da assessoria diz que “todo
servidor que apresenta sintomas característicos da infecção viral causada pelo
coronavírus é imediatamente afastado de suas atividades e acompanhado pela
Medicina do Trabalho do instituto”.
Fonte_COFEN
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