Em fevereiro, o Ministério da Saúde deu início à
distribuição de 150 mil testes rápidos para o apoio ao diagnóstico da
hanseníase no Sistema Único de Saúde (SUS). O anúncio da medida foi feito
durante a cerimônia de abertura do seminário “Hanseníase no Brasil: da
evidência à prática”, que ocorreu nesta terça-feira (24). A entrega dos testes
coloca o Brasil como primeiro país no mundo a ofertar insumos para a detecção
da doença na rede pública.
Em sua fala, a ministra da Saúde, Nísia Trindade,
destacou a importância da iniciativa. “Hoje, o Ministério da Saúde anuncia a
entrega dos testes que são fruto de pesquisas realizadas por instituições
brasileiras. O teste rápido pela Universidade Federal de Goiás e o PCR pela
Fiocruz e Institutos de Biologia Molecular do Paraná”, explicou a titular da
pasta.
As unidades serão destinadas às pessoas que tiveram
contato próximo e prolongado com casos confirmados da doença e serão de dois
tipos: o teste rápido (sorológico) e o teste de biologia molecular (qPCR). Uma
terceira modalidade, de biologia molecular (PCR), também será ofertada pelo SUS
e vai auxiliar na detecção da resistência a antimicrobianos. As três
tecnologias foram incluídas no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da
doença em julho do ano passado.
A ministra reforçou a importância de se combater a
desinformação e o preconceito, de batalhar pela transversalidade de atuação do
Ministério e enfatizou que a hanseníase é uma doença curável. "Não é
apenas a doença que é negligenciada, mas também as pessoas. Por isso esse
seminário é tão importante. O esforço conjunto no combate à infeção é essencial
para vencer uma doença que, historicamente, é carregada de estigma",
comentou.
Sobre a importância da presença da sociedade civil
no evento, Angélica Espinosa, representante da Secretaria de Vigilância em
Saúde e Ambiente (SVSA/MS), agradeceu às equipes da sociedade que trabalham
contra a doença em conjunto com o Ministério da Saúde. “A atuação de vocês é
muito importante", afirmou. Angélica também apontou que dar visibilidade à
pauta é fundamental, não apenas para vencer a hanseníase, mas também para
eliminar "o estigma e discriminação contra os pacientes".
Valorização dos profissionais
No evento, que segue até quinta-feira (26), também
foi apresentado o resultado de vivências de sucesso no enfrentamento à
infecção. Ao todo, a pasta selecionou, por meio do Edital de Mapeamento de
Experiência Exitosas em Hanseníase, 10 dentre 52 inscritos para trazer
visibilidade às ações bem-sucedidas ao SUS e estimular os profissionais que
atuam na linha de frente.
O evento contou, ainda, com o lançamento do Painel
Interativo de Indicadores - Hanseníase no Brasil, com acesso a dados da
infecção, com base no levantamento do Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (Sinan). Os participantes do seminário também receberam os dados
atualizados do Boletim Epidemiológico da Hanseníase 2023.
Tecnologia e informação
Outra novidade apresentada no seminário foi o
AppHans, que será usado para a construção de uma política pública de maior
acesso e com mais tecnologia. O objetivo do Ministério da Saúde é, com o
aplicativo, oferecer conteúdo textual e visual para apoiar os profissionais de
saúde no diagnóstico, tratamento, prevenção de incapacidade física e reações
hansênicas. Durante o evento, os participantes conheceram a versão Beta do
aplicativo e tiveram espaço para apoiar o MS com sugestões para consolidação
das versões para Android e iOS, antes que a versão final seja disponibilizada
para o usuário.
Estratégia nacional de enfrentamento
A perspectiva é que os estados fomentem a
implantação do Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas da Hanseníase
(PCDT), com novos testes nos municípios, apoiados pela definição da linha do
cuidado da doença e alinhada à adoção das ações propostas na Estratégia
Nacional para Enfrentamento à Hanseníase 2023-2030, de forma a possibilitar
o alcance das metas, que são:
1. Reduzir em 55% a taxa de casos novos de
hanseníase em menores de 15 anos de idade até 2030 – levando em consideração o
ano-base de 2019, 3,44 casos novos por 100.000 habitantes;
2. Reduzir em 30% o número absoluto de casos novos
com Grau de Incapacidade Física 2 (GIF2) — quando o paciente apresenta lesões
consideradas graves nos olhos, mãos e pés — no momento do diagnóstico de
hanseníase até 2030 – levando em consideração o ano-base 2019, que registrou
2.351 casos novos com GIF2 no momento do diagnóstico;
3. Dar providência a 100% das manifestações sobre
práticas discriminatórias em hanseníase registradas nas Ouvidorias do SUS.
Tradicionalmente, o mês de janeiro é destinado às
ações e estratégias de enfrentamento à hanseníase e luta pelos direitos das
pessoas infectadas. No entanto, o governo pretende que a pauta seja debatida
durante todo o ano e, por isso, o compromisso de levar o diagnóstico,
informações, cuidados e o tratamento aos pacientes. “A hanseníase tem cura! O
Brasil não pode continuar com a triste referência de segundo país no mundo com
maior número de novos casos da doença”, ressaltou, em outra oportunidade, Ethel
Maciel, titular da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério
da Saúde (SVSA/MS).
A pasta aponta que nos últimos 11 anos,
considerando a série histórica da taxa de detecção de 2010 e 2021, a hanseníase
apresentou padrão de redução com pequenas mudanças no período de 2017 a 2019, o
que pode ser associado ao fomento de capacitações dos profissionais da Atenção
Primária à Saúde com a estratégia de busca ativa dos contatos e de casos
suspeitos na comunidade, apoiados pela epidemiologia espacial.
Entre 2020 e 2021 ocorreu a maior redução da taxa
de detecção geral, no entanto, o número pode estar relacionado aos efeitos da
sobrecarga dos serviços de saúde e pelas restrições durante a pandemia da
Covid-19. Vale lembrar que durante os dois primeiros anos de crise sanitária do
Sars-CoV-2, os diagnósticos da doença reduziram cerca de 35%.
Brasil sem hanseníase
A Estratégia Nacional para Enfrentamento à
Hanseníase 2023-2030 apresenta a visão de um Brasil sem a doença. Para tanto, é
encorajado e apoiado que os 75,03% dos municípios do país com casos notificados
no período de 2015 e 2019 intensifiquem as ações de enfrentamento, buscando
envolver os setores de saúde, educação social, bem como incentivo aos 24,97%
dos municípios que não apresentaram casos a adotar medidas específicas para
aprimoramento da vigilância em saúde e para a prevenção de incapacidades físicas
decorrentes da hanseníase. O documento parte de uma construção tripartite, com
a participação de diferentes entidades do setor, e busca apoiar as ações de
luta contra a hanseníase.
Participantes
O evento contou com a participação de coordenadores
estaduais de programas de hanseníase, centros de referência, pesquisadores da
doença, movimentos sociais e sociedades médicas. Além das importantes entidades
do setor, o Ministério da Saúde também recebeu, como convidados especiais, os
representantes do Programa Global de Hanseníase, da Organização Mundial da
Saúde, e representante da Parceria Global para Zero Hanseníase (GPZL).
O que é a doença?
Causada pela bactéria Mycobacterium leprae, a
hanseníase é uma doença infecciosa e de evolução crônica, que atinge
principalmente os nervos periféricos, a pele e as mucosas. A infecção pode
causar lesões neurais, danos irreversíveis e depende de um diagnóstico precoce
para evitar o desenvolvimento de sequelas.
Em 2022, mais de 17 mil novos casos foram
diagnosticados no país, segundo levantamento preliminar realizado pela
Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) do Ministério da Saúde.
Devido à alta quantidade de registros anuais, a doença ainda é considerada um
problema de saúde pública e a pasta estabelece como medida obrigatória o aviso
compulsório e investigação dos casos suspeitos.
Fonte_Saúde
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