A decisão liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso de suspender o piso salarial nacional da enfermagem teve repercussão rápida e incisiva nas redes sociais por boa parte dos senadores neste domingo (4). Presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco afirmou que vai tratar imediatamente, em nome do Parlamento, “dos caminhos e das soluções para a efetivação do piso perante o STF”.
Já está prevista uma reunião nesta terça-feira (6)
entre Pacheco e Barroso, em horário a ser definido.
— O piso salarial nacional dos profissionais da
enfermagem, criado no Congresso Nacional, é uma medida justa destinada a um
grupo de profissionais que se notabilizaram na pandemia e que têm suas remunerações
absurdamente subestimadas no Brasil ... Não tenho dúvidas de que o real desejo
dos Três Poderes da República é fazer valer a lei federal e, ao mesmo tempo,
preservar o equilíbrio financeiro do sistema de saúde e entes federados. Com
diálogo, respeito e inteligência, daremos rápida solução a isso — expôs o
presidente do Senado.
Em 14 de julho deste ano, o Congresso promulgou a Emenda Constitucional (EC) 124 para possibilitar que
uma lei federal instituísse os pisos salariais nacionais para enfermeiros,
técnicos e auxiliares de enfermagem e parteiras. Já em 4 de agosto foi
sancionada a respectiva norma, a Lei 14.434, de 2022.
Primeira signatária da Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) 11/2022, que deu origem à Emenda 124, a
senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) enviou ofício a Barroso para solicitar o
agendamento de audiência para tratar, juntamente com representantes da
categoria e parlamentares, da Ação Direta de Inconstitucionalidade movida
contra o piso.
O senador Fabiano Contarato (PT-ES), autor do
projeto de lei que originou a Lei 14.434, afirmou em suas redes sociais que
conversou com Pacheco para pedir que atue na efetivação do piso da enfermagem,
diante da decisão judicial de suspensão do pagamento.
— Pacheco é sensível à causa da dignidade salarial
da enfermagem e contribuirá no sentido de solucionar o impasse da
judicialização — disse Contarato.
Relator da PEC 11/2022, o senador Davi Alcolumbre
(União-AP) afirmou que confia na "harmonia entre os Poderes" e que
“juntos, encontraremos uma solução para esses trabalhadores que tanto fizeram e
fazem pelo nosso país, inclusive, na linha de frente da pandemia”.
Reprovação
O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) afirmou
que uma lei aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da
República não pode ser revertida por decisão monocrática.
— Situações como esta colocam em risco os
princípios da independência e da harmonia entre os poderes — declarou Bezerra.
Na mesma linha, o senador Vanderlan Cardoso
(PSD-GO) também escreveu que “essas atitudes me causam preocupação com os
caminhos de nossa democracia”.
— Decisões assim quebram o rito e a ordem natural
das leis. É um erro tamanha interferência entre os Poderes. Além do mais,
trata-se de uma lei que beneficia nossos enfermeiros, heróis anônimos nessa
pandemia. Não há Poder acima do outro e nem maior que o outro. Há limites para
todos, e eles devem ser respeitados.
Favorável ao aumento do piso dos profissionais de
enfermagem, o senador Alessandro Vieira (PSDB-SE) disse ser “hora dos
representantes do Legislativo, Judiciário e Executivo se unirem em busca de uma
solução que garanta e implementação da lei aprovada pela ampla maioria dos
parlamentares federais”.
Para o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), não cabe a
suspensão dos efeitos da lei.
— Cabe buscar alternativas para o seu cumprimento
sem comprometer a vida financeira de hospitais filantrópicos e prefeituras
municipais. Atualizar a tabela do SUS é essencial.
Direitos
Surpresa foi como se definiu a senadora Leila
Barros (PDT-DF) ao receber a informação da suspensão da lei.
— Defendi e trabalhei pela aprovação da Lei que
estabeleceu esse justo e merecido reconhecimento aos profissionais. São
verdadeiros heróis que merecem mais do que palavras bonitas de gratidão.
Para a senadora Maria do Carmo Alves (PP-SE) é
“incabível tal suspensão”.
— Principalmente se considerarmos o tempo que a
enfermagem recebeu salários abaixo da sua importância e entrega para a saúde
brasileira.
O senador Lucas Barreto (PSD-AP) salientou que a
Lei 14.434 é resultado de um trabalho que “resgata uma dívida histórica do país
com esses abnegados profissionais”.
— A aprovação do projeto representou uma vitória
para todas essas categorias de profissionais, que lutaram junto com a gente.
São homens e mulheres que atuaram com muita coragem e engajamento, sobretudo
nos momentos mais difíceis do país, como na pandemia da covid-19. A aprovação
do projeto foi precedida de estudos de impacto e de debates com todos os entes
envolvidos, de forma que a insatisfação de alguns setores não pode, jamais,
prevalecer sobre a vontade da maioria. Acreditamos no bom senso e na revisão da
decisão pelo STF.
O senador Dário Berger (PSB-SC) definiu como
“lamentável” a decisão do ministro Barroso.
— A liminar afeta uma categoria que há anos vem
reivindicando melhores condições de trabalho e valorização profissional. Sou
contra essa decisão.
Suspensão
A decisão cautelar de Barroso foi concedida nesse
domingo (4) no âmbito da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7.222. O
jurista deu prazo de 60 dias para que entes públicos e privados da área de
saúde informem o impacto financeiro do piso salarial, assim como os riscos para
a empregabilidade na área e a possibilidade de eventual redução na qualidade
dos serviços prestados na rede de saúde.
Na decisão, o ministro afirmou ser plausível o
argumento de que o Legislativo aprovou o projeto e o Executivo o sancionou sem
cuidarem das providências que viabilizariam a sua execução, como, por exemplo,
o aumento da tabela de reembolso do SUS à rede conveniada.
Essa decisão provisória (liminar) será levada ao
plenário virtual do STF, em data ainda não confirmada.
A ADI foi apresentada ao STF pela Confederação
Nacional de Saúde, Hospitais e Estabelecimentos e Serviços (CNSaúde) que
questiona a constitucionalidade da Lei 14.434, de 2022. A norma definiu que
enfermeiros devem receber pelo menos R$ 4.750 por mês. Técnicos de
enfermagem fazem jus a no mínimo 70% disso (R$ 3.325) e os auxiliares de enfermagem
e parteiras a pelo menos 50% (R$ 2.375).
Fonte: Agência Senado
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