Um
novo estudo com um período de acompanhamento longo descobriu que a radioterapia
na parede torácica não fez absolutamente nenhuma diferença na sobrevida de
mulheres com câncer de
mama em estágio inicial que foram tratadas com mastectomia,
cirurgia de linfonodos e medicamentos anticancerígenos avançados.
Os
resultados do ensaio clínico randomizado foram publicados no The New England
Journal of Medicine.
A
radiação tem desempenhado um papel importante no tratamento do câncer de mama
há muito tempo, embora os médicos a tenham utilizado com mais parcimônia em
estágios iniciais da doença nos últimos anos, à medida que os avanços no
diagnóstico e no tratamento melhoraram as taxas de sobrevida.
As
mulheres participantes do estudo apresentavam risco intermediário, ou seja,
tinham câncer em
estágio II com um a três linfonodos afetados, ou tumores com características
agressivas e sem comprometimento linfonodal.
A
maioria das pacientes não havia feito quimioterapia antes das cirurgias, o que
reduz a necessidade de radioterapia, afirmou Ian Kunkler, investigador
principal do estudo internacional e um dos autores principais do artigo.
Os
resultados corroboram uma tendência já em curso, afirmou ele, "rumo à
redução da radioterapia em grupos de pacientes de menor risco". Os riscos
para essas mulheres são baixos, e a quimioterapia suficientemente eficaz, para
dispensar a necessidade de radiação.
"Agora
demonstramos que, com os tratamentos anticancerígenos contemporâneos, o risco
de recorrência é muito, muito baixo. Suficientemente baixo para evitar a
radioterapia na maioria dos pacientes", disse Kunkler.
O
estudo incluiu mais de 1.600 mulheres com doença em estágio inicial, metade das
quais havia recebido radioterapia e a outra metade não. Após um acompanhamento
mediano de 9,6 anos, as taxas de sobrevida foram semelhantes: 81,4% entre as
pacientes que receberam radioterapia e 81,9% entre as que não receberam.
A
radiação não teve impacto no
tempo de vida das mulheres sem recorrência da doença, nem efeito sobre a
disseminação da doença da mama para outras partes do corpo.
Ainda
assim, aquelas que receberam radioterapia apresentaram um risco
significativamente menor de recorrência do câncer na parede torácica. Mas o
número de recorrências foi muito pequeno: dos 29 pacientes que apresentaram uma
recorrência, nove (ou 1,1%) haviam recebido radioterapia e 20 (ou 2,5%) não.
Embora
a radioterapia já esteja sendo usada com menos frequência em pacientes de baixo
risco, as descobertas ajudarão a esclarecer o tratamento para mulheres com
risco intermediário.
"Ficou
claro que, para cânceres de baixo risco, não era necessária radioterapia após a
mastectomia, enquanto que, para pacientes de alto risco, a radioterapia era
necessária e deveria ser realizada mesmo após a mastectomia", disse o Dr.
Harold Burstein, oncologista clínico do Dana Farber Cancer Institute e
professor da Harvard Medical School, que não participou do estudo.
"Isso
deixou em aberto a questão do grupo intermediário de pacientes — ainda havia
dúvidas se a adição de radioterapia seria benéfica", disse ele. Os
resultados do estudo sugerem que a radiação não é necessária para essas
mulheres.
"Sabemos
que quase todos os pacientes apresentam alguns efeitos colaterais da
radioterapia, que podem se desenvolver mesmo anos após o tratamento",
disse Nicola Russell, uma das autoras principais do estudo, realizado pelo
Conselho de Pesquisa Médica (Medical Research Council), pela Organização
Europeia para Pesquisa e Tratamento do Câncer (European Organization for
Research and Treatment of Cancer) e pelo Grupo Internacional de Câncer de
Mama (Breast International Group).
A
curto prazo, a radiação pode causar efeitos semelhantes a queimaduras solares e
outras alterações na pele, além de dor e inchaço. Em casos raros, pode levar à
inflamação pulmonar e também aumentar o risco de linfedema, uma condição que
causa inchaço nos braços e pode ser grave.
A
radiação também pode complicar a reconstrução mamária imediatamente após a
mastectomia, bem como em reconstruções posteriores, pois altera a textura da
pele, tornando-a menos elástica e mais propensa a cicatrizes.
Os
pesquisadores alertaram que pacientes com maior risco de recorrência e
disseminação do câncer ainda podem se beneficiar da radioterapia.
Fonte _ Folha

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