Com
o objetivo de aprimorar seu portfólio de produtos imunobiológicos, com foco
especial em doenças negligenciadas e infecciosas, o Instituto Butantan firmou
uma parceria estratégica com a empresa de biotecnologia Mabloc, sediada em
Washington, nos Estados Unidos, para co-desenvolver e fabricar o MBL-YFV-01 —
uma terapia inovadora com anticorpos monoclonais para infecção pelo vírus da
febre amarela (YFV).
O
medicamento MBL-YFV-01 será indicado como tratamento da doença para moradores
de áreas endêmicas que não foram vacinados e acabaram sendo infectados.
A
parceria ocorre em meio à escalada de surtos de febre amarela no Brasil,
incluindo casos humanos confirmados em São Paulo, Minas Gerais e Espírito
Santo. Apesar da disponibilidade de uma vacina viva atenuada, milhões de
pessoas permanecem em risco devido à baixa imunização. Uma opção terapêutica
pós-exposição continua sendo uma necessidade médica.
“Enquanto
o mercado tradicional se concentra em terapias de alto retorno financeiro, o
Butantan direciona seus esforços para onde a necessidade é maior — desenvolver
anticorpos monoclonais, medicamentos altamente eficazes, mas de custo elevado,
reafirmando nosso compromisso de transformar pesquisa em impacto social e
colocar a saúde pública acima de qualquer interesse econômico”, afirma o
diretor de Inovação e Licenciamento de Tecnologia do Instituto Butantan,
Cristiano Gonçalves.
A Mabloc, empresa de biotecnologia impulsionada por inteligência artificial, que desenvolve terapias com anticorpos monoclonais para doenças infecciosas, detém licenças e patentes relacionadas a anticorpos monoclonais altamente específicos com grande capacidade de neutralização viral.
O
MBL-YFV-01 é um anticorpo
monoclonal humano descoberto por meio da plataforma BRAID™, de
propriedade da Mabloc, que utiliza inteligência artificial para identificar e
otimizar rapidamente potenciais anticorpos. Em um estudo com modelos animais
publicado em 2023 na Science
Translational Medicine, uma dose única de 50 mg/kg de MBL-YFV-01
controlou totalmente a viremia e preveniu a doença grave e a morte.
"A
capacidade de intervir durante a fase aguda da doença, com risco de vida, é o
que torna o MBL-YFV-01 único. Embora a vacinação proteja a maioria da
população, ainda há locais onde a imunização não é largamente acessível",
afirma o diretor de Desenvolvimento de Produtos da Mabloc, Michael Ricciardi.
"Com a comprovada capacidade do Butantan de fabricação de produtos
biológicos e de ensaios clínicos, esta parceria nos permite responder
rapidamente a surtos reais e levar uma terapia extremamente necessária às mãos
de médicos e pacientes. Este será o primeiro medicamento específico para o
tratamento da febre amarela", ressalta.
Os anticorpos
monoclonais (mAbs) são uma classe de medicamentos
produzidos a partir de diferentes tecnologias que identificam uma sequência
genética e tratam uma variedade de doenças infecciosas, autoimunes e
cancerígenas com efeitos colaterais mínimos ou inexistentes. O Butantan possui
um Laboratório de Biofármacos que estuda novos anticorpos monoclonais e uma
fábrica onde podem ser produzidos diferentes anticorpos monoclonais.
Termos
da Parceria
O
acordo estabelece a concessão de uma licença exclusiva ao Butantan para o
desenvolvimento do anticorpo monoclonal contra a febre amarela, bem como para
sua futura comercialização em países de baixa e média renda.
“Anticorpos monoclonais são medicamentos inovadores e altamente específicos, cuja relevância para prevenção e tratamento de doenças infecciosas tem crescido nos últimos anos. Desenvolver este produto passando por toda a rota tecnológica, não só se alinha com a missão do Butantan, como também gera muito aprendizado e competência técnica para o país por meio do investimento em P&D de áreas pouco exploradas pela indústria – o que reafirma nosso compromisso de transformar ciência em impacto social entregando mais uma solução em benefício da saúde pública”, complementa Cristiano Gonçalves.
Importância
Clínica
Um
estudo de 2019 com pacientes de febre amarela, publicado no The
Lancet Infectious Diseases, demonstrou que a alta carga viral
poderia ser uma variável preditora independente de mortalidade. Segundo a
pesquisa, 100% dos pacientes investigados com alta carga viral e contagens
elevadas de neutrófilos morreram durante a hospitalização. O MBL-YFV-01 reduz a
carga viral e pode oferecer uma maneira de diminuir as mortes em casos graves.
“Com
o MBL-YFV-01, finalmente teremos o potencial de atingir diretamente o vírus e
dar aos pacientes muito doentes uma chance real de sobrevivência”, completa
Cristiano.
Situação
da febre amarela no Brasil
A
febre amarela é causada por um vírus transmitido por mosquitos e tem dois
ciclos de transmissão: urbano e silvestre. De acordo com a Organização Pan-Americana
da Saúde (OPAS), há 47 países endêmicos ou com regiões endêmicas
de febre amarela, 34 dos quais na África e 13 na América Central e do Sul.
Um estudo modelo
baseado em fontes de dados do continente africano estima que, em 2013, houve
entre 84 mil e 170 mil casos graves e entre 29 mil e 60 mil mortes por febre
amarela naquela região.
Em
2025, a OPAS alertou para um aumento de casos humanos de febre amarela em
países das Américas, incluindo a identificação de ocorrências fora da região
amazônica, em seu Alerta
Epidemiológico Febre Amarela na Região das Américas. Dos 235 casos e 96
mortes por febre amarela notificados em cinco países das Américas até maio
deste ano, representando uma taxa de letalidade de 41%, 111 casos e 44 mortes
ocorreram no Brasil, o maior percentual na região.
"Em
2024, casos humanos de febre amarela foram notificados principalmente na região
amazônica da Bolívia, Brasil, Colômbia, Guiana e Peru. Em 2025, no entanto, os
casos foram detectados principalmente no estado de São Paulo e no departamento
de Tolima, na Colômbia, regiões fora da região amazônica de ambos os
países", destaca o documento da OPAS.
No
Brasil, o ciclo da doença é atualmente silvestre, transmitido por mosquitos dos
gêneros Haemagogus e Sabethes. Os últimos casos registrados de febre amarela
urbana no Brasil datam de 1942, e todos os casos confirmados desde então se
devem ao ciclo de transmissão silvestre, segundo
o Ministério da Saúde.
Os
sintomas mais comuns da febre amarela são dores no corpo e de cabeça, náuseas,
febre, perda de apetite e vômitos, que desaparecem em 3 a 4 dias. Em média, 20%
dos casos podem evoluir para uma forma grave, com sintomas como pele e fundo
dos olhos amarelados, urina escura, dor abdominal e vômito com sangue, segundo
a OPAS.
A
vacinação é a principal ferramenta de prevenção da doença e, no Brasil, é
oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a toda a população.
A
OPAS alerta que viajantes que visitam regiões endêmicas podem, ocasionalmente,
trazer febre amarela para outros países livres da doença. Para evitar a
importação da doença, muitos países exigem comprovante de vacinação contra a
doença antes da emissão de vistos, principalmente para viajantes provenientes
ou que visitaram essas áreas.
Fonte _ Butantan



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