Em
artigo publicado (12/11) na revista científica Cell Host & Microbe da
editora Cell Press (grupo Elsevier), pesquisadores da Fiocruz analisam
desigualdades na cobertura vacinal entre grupos vulneráveis à Covid-19 grave e
propõem estratégias mais inclusivas para garantir equidade na imunização de
gestantes, idosos e pessoas imunocomprometidas. Segundo o estudo, apesar da
eficácia comprovada das vacinas na prevenção de casos graves e mortes, a adesão
entre esses grupos de alto risco continua preocupantemente baixa em diversas
regiões do mundo. Os cientistas discutem fatores como barreiras de acesso,
desinformação e a falta de dados específicos sobre segurança e eficácia para
essas populações.
“Vacinas
eficazes só cumprem integralmente seu papel quando chegam a quem mais precisa.
Isso exige políticas baseadas em evidências, comunicação clara e ensaios
clínicos verdadeiramente inclusivos”, afirmam os pesquisadores da Fiocruz
Bahia, Viviane Boaventura, Manoel Barral e Thiago Cerqueira no texto do artigo,
que foi intitulado Otimização da proteção
vacinal para populações de alto risco (tradução livre). Essas
conclusões reforçam a urgência de estratégias mais equitativas e baseadas em
evidências científicas, garantindo que os benefícios das vacinas alcancem todos
os grupos populacionais.
O
artigo destaca que a maioria das vacinas é desenvolvida e testada em populações
de baixo risco, excluindo justamente os grupos mais vulneráveis. Essa “proteção
por exclusão” cria lacunas importantes de evidência científica e dificulta
decisões de saúde pública, além de favorecer a disseminação de notícias falsas.
Os
pesquisadores observam que esse cenário começa a evoluir. O ensaio clínico da
vacina Abrysvo (Pfizer), aprovada para gestantes contra o vírus sincicial
respiratório (VSR), demonstra que é possível realizar estudos seguros e
eficazes com populações tradicionalmente excluídas.
A
análise ainda conclui que a inclusão de populações vulneráveis nos ensaios
clínicos e nas estratégias de imunização é tanto uma questão científica quanto
de justiça social. Gestantes, idosos e indivíduos com comorbidades estáveis
devem ser considerados elegíveis para estudos clínicos, salvo quando houver
evidências concretas de risco.
Os
pesquisadores também apontam o papel crucial dos estudos observacionais,
fundamentais para compreender a efetividade das vacinas em condições reais.
Esses estudos foram essenciais para identificar, por exemplo, o declínio da
imunidade contra a Covid-19 e orientar a adoção de doses de reforço em diversos
países.
Cobertura
vacinal desigual reflete barreiras sociais e estruturais
Análises
recentes mostram que a cobertura vacinal entre populações vulneráveis é de 10 a
20% menor do que na população geral. Entre gestantes, por exemplo, a adesão à
vacina contra a Covid-19 nos Estados Unidos chegou a apenas 16% em 2021, com
fortes disparidades raciais — 6% entre mulheres negras e 25% entre mulheres
asiáticas. Em 2025, a taxa permanece próxima de 14%.
Entre
pessoas vivendo com HIV, a adesão vacinal varia de 19 a 90%, com menores
índices em países africanos e do Mediterrâneo Oriental. Já entre idosos, as
menores coberturas foram registradas em países africanos (mediana de 47% para a
primeira dose de reforço), enquanto a Europa apresenta os índices mais
elevados.
Os
autores também apontam que desigualdades socioeconômicas, hesitação vacinal,
desinformação e politização das campanhas estão entre os principais fatores que
sustentam essas disparidades.
Evidências
recentes mostram, por exemplo, que idosos e pessoas imunocomprometidas
respondem de forma diferente às vacinas convencionais. A senescência
imunológica reduz a produção de anticorpos e a duração da proteção, reforçando
a necessidade de formulações e esquemas de doses personalizados. Mesmo entre os
imunocomprometidos (em que a eficácia pode ser menor) a vacinação continua
oferecendo proteção substancial contra hospitalizações e mortes.
Fonte _ FioCruz

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